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Canções da classe trabalhadora para comemorar o 13°

Chega novembro e o brasileiro só pensa em uma coisa: Copa do Mundo. Esse ano, pelo menos. Mas em situações normais de temperatura e pressão (e horário de verão), essa é a época de pensar o que fazer com o décimo terceiro salário. É o momento de encher a Renner e aproveitar um pouco do ar-condicionado, especialmente se você trabalha como de Papai Noel de shopping. Para comemorar essa data tão especial, quando novos carnês e compras no cartão de crédito serão feitos e a alegria voltará aos donos de boutiques e lojinhas de capa de celular, vamos elencar algumas canções que relatam o dia a dia do trabalhador.

Para deixar claro, essas não necessariamente são músicas de protesto, às vezes elas se confundem por motivos óbvios e apesar do amor pelo salário a mais, essas também não são canções de amor. São de uma outra espécie, ainda não bem definida, de canções que celebram aquele vale refeição e desconto na farmácia. Vamos a elas.

Construção – Chico Buarque

Já começamos com uma crítica social f**, afinal esse é um clássico da MPB em proparoxítonas, denunciando as condições de trabalho na construção civil no começo dos anos 70. De lá para cá, muita coisa mudou, os EPIs tão aí com força total, porém ainda dá para se identificar com aquele momento de descanso para comer a marmita.

Le poinçonneur des Lilas – Serge Gainsbourg

Para quem não conhece menino Serginho, aqui vai uma breve definição: ele é uma espécie de Roberto Carlos francês, só que cool como o Erasmo Carlos, tanto que é possível identificar uma influência de Histoire de Melody Nelson em Carlos, Erasmo, ambos de 1971 (ou talvez tenha sido apenas uma ótima coincidência). De qualquer forma, na carreira de Serge tem um bocado de fases: música para amorzinho gostoso, rock, reggae, chanson française, jazz e lá vai.

Canções da classe trabalhadora para comemorar o 13° - Serge
Seddussaum

Essa é a primeira música do primeiro disco, e versa sobre o perfurador lilás, um funcionário do metrô da época que controlava os tickets na entrada e fazia isso furando-os. Serge era só um menino orelhudo quando lançou essa música e não esse sedutor em lençóis de cetim.

9 to 5 – Dolly Parton

Quando escreveu essa faixa para o filme homônimo de 1980 (a tradução para o PT-BR ficou Como eliminar seu chefe) Dolly já tinha conquistado feitos incríveis, como ter composto Jolene e I always love you na mesma noite, por exemplo. Já essa é uma canção muito divertida sobre a rotina de trabalho, com direito a uma percussão de máquinas de escrever (tecnologia de ponta na época, hihihihi), boa para fazer performances no banho ou no almoxarifado.

Piss factory – Patti Smith

Menos alegre e otimista é essa faixa que nunca entrou nos discos oficiais da cantora, mas que foi seu primeiro single (junto com uma versão alucinada de Hey Joe). Antes de se tornar uma das figuras mais importantes da história da música, menina Patti já tinha uma carreira consolidada como poetisa underground e um desses poemas serviu de base para essa delirante faixa acompanhada de um piano hipnótico que fala de sua experiência trabalhando em uma fábrica de comida para bebês, a mesma fábrica em que foi acusada de comunista por ler um livro de Rimbaud em edição bilíngue.

Common people – Pulp

Esse hino do britpop, terceira faixa do clássico moderno Different Classes, não fala necessariamente do trabalhador, mas da desesperança das classes mais baixas e do deslumbramento daqueles que não tem contato com o mundo real, tipo aquele seu parente médico que nunca pegou um ônibus, mas que acredita que sabe o que é o melhor para o povo. Nesse caso, Jarvis Cocker nos conta sobre uma menina rica que fica fascinada com a vida comum de tarefas comuns, como ir ao supermercado ou pagar aluguel, quase que prevendo o tuiteiro padrão (boletos, litrão e tals).

Working class hero – John Lennon

João Leno, como todos sabem, fez a melhor música sobre o comunismo (Imagine), assim como ótimas músicas de protestos como Power to the people, Angela e Sunday bloody sunday (antes de ser moda). Em Working Class Hero ele desabafa sobre a necessidade do artista de estar em conexão com os anseios de seu público, ao mesmo tempo que precisa ter uma posição individual. Detalhe, João era o mais playboy dos Beatles, o verdadeiro herói da classe trabalhadora era o Ringo, enquanto o Paul só tinha (tem) cara de playboy que quer uma bola quadrada.

Livin’ on a prayer – Bon Jovi

Verdadeiro herói da classe trabalhadora, praticamente um Bruce Springsteen de laquê, Bon Jovi (na época que era jovem) canta sobre perrengues financeiros, greves e sindicatos, assuntos tabus nos USA até hoje. Outra ótima canção para fazer performance, mesmo sabendo que 99% desse gênero musical é de gosto, no mínimo, duvidoso.

The magnificent seven – The Clash

É claro que não poderiam faltar eles, a banda que levou o discurso revolucionário para as massas, mas que infelizmente não receberam a devida atenção, pois não eram polemiquinhos como o Sex Pistols. Outra canção sobre a rotina do trabalhador, ela faz parte do álbum triplo Sandinista! de 1980. Fun fact, já conheci pessoas que possuíam esse disco, com esse nome e que mesmo assim pensaram “não, vai ser bem melhor quando a direita liberal antidemocrática assumir o poder.” Estamos nesse estado não é à toa.

Maggie’s farm – Bob Dylan

Para finalizar, essa bela ode à revolta aos mandos e desmandos de quem sempre foi acostumado a ser servido, tanto que uma versão PT-BR deveria ser a Fazenda da Sinhá. Dylan (lê-se dailan) é obrigado a limpar o chão, ouvir comentários espirituosos (para eles), sobre Deus (pátria e família) e achar tudo muito bonito. Para se ter uma ideia como ela é uma música importante, até o Rage Against the Machine já a regravou. Não preciso de mais explicações.

Para mais análises acertadas sobre música e observações sagazes sobre subempregos, acesse o restante de nosso conteúdo limpinho e cheiroso.

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