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10 canções para conhecer Jeanne Cherhal

Entre 2007 e 2010 estive em minha fase mais francófona e ela estava estritamente ligada ao fato de fazer aulas de francês. Porém algo que sempre me incomodou foi o fato de, ao contrário da língua inglesa, que adentrava minha rotina de diversas formas – filmes, séries, música e por aí vai – escutar alguma coisa em francês era bem difícil. Existiam alguns bons filmes, até mais palatáveis nesse começo de século – nem tudo precisa ser Goddard e figuras de linguagens audiovisuais – porém em questão de música, tanto nas questões, quanto nos artistas, tudo o que conseguia encontrar eram coletâneas com 18 versões de “La vie en rose”.

canções para conhecer Jeanne Cherhal

Nesse contexto, dois serviços vieram ao meu auxilio: a Last.fm e o Orkut. A primeira me deu algumas indicações do que havia de interessante se tratando de música francesa mais recente, e a segunda disponibilizava um serviço de entrega de discografias inteiras, graças a suas falecidas comunidades. Nelas encontrava links para fazer téléchargement gratuite de diversos álbuns, nem todos eram grandes coisas, mas havia muita coisa boa naquelas páginas.

Foi nesse período que conheci gente como Benjamin Biolay (que possui o seu texto próprio), Olivia Ruiz, Emily Loizeau, Mademoiselle K e outros. Mas com a exceção de Biolay, a maioria desses artistas não produziu grandes discos além daqueles registrados nessa época, com exceção dele e de Jeanne Cherhal.

Água, histórias e charadas

canções para conhecer Jeanne Cherhal

Nascida em 1978 na cidade de Nantes, Jeanne Cherhal lançou um álbum independente quando tinha apenas 24 anos. Influenciada pelos grandes nomes da música francesa e de cantoras-compositoras como Carole King, Joni Mitchell e Fiona Apple (facilmente identificadas em seus trabalhos), ela logo conseguiu ser contratada por uma grande gravadora, espécie de padrão para a época.

De lá para cá, Jeanne lançou cinco discos, todos de ótima qualidade e que trazem composições inspiradas quase sempre ao piano. Nesse meio tempo ele ainda teve tempo de realizar turnês – sobretudo na França (mas já esteve no Brasil) – de participar de diversos filmes, peças de teatro, supergrupos (Les Françoises com as supracitadas Ruiz e Loizeau), além de estar ativa em diversas causas humanitárias, especialmente em relação a condição de vida dos imigrantes na França e na luta pelos direitos das mulheres no seu país natal.

Como dito antes, os seis trabalhos de Jeanne são consistentes e contém ótimas canções, ficando difícil escolher um melhor. Portanto, o jeito mais fácil de apresentar seu trabalho é por meio de canções. Separei uma lista de dez das minhas preferidas que acredito se tornarão uma boa introdução a obra de Jeanne até o momento.

Voilà

Por se tratar de uma balada suave com um violão swingado, pode se ter a impressão de que Jeanne faz a linha dos artistas franceses cheios de ritmo, como Zaz e Paris Combo. Mas não é bem o caso, mas essa canção, um dos seus maiores sucessos e que está em seu terceiro álbum, “L’eau” de 2006, é uma ótima introdução para o trabalho da cantora-compositora.

Cinq Ou Six Années

Muito mais parecido com o restante do trabalho pelo qual ela foi reconhecida, essa é a principal faixa do ótimo disco “Charade” de 2010. Com ótimo arranjo de piano e voz e com um belo refrão, essa canção remete ao romantismo da cantora, como estilo literário e não como traço de personalidade, enquanto rememora sua juventude desperdiçada em sonhos e histórias cheias de drama.

Douze Fois Par An

Primeira música que me chamou a atenção e presente no segundo álbum da cantora, de mesmo nome, “Douze fois par an” é uma balada de voz violão que lida de uma perspectiva feminina do tema de “Mulher de fases” do Raimundos. Como não poderia dizer (já que qualquer coisa é melhor que Raimundos), não só é realizada de forma muito mais sensível e delicada, como se trata de uma pequena obra de arte de pouco mais de dois minutos.

L’Oreille Coupée

Só pelo título dessa canção (a orelha cortada) já dá para perceber porque ela é uma das minhas preferidas, afinal possuo uma pequena obsessão pelo menino Vincent. Não bastasse isso, essa é uma ótima faixa do penúltimo disco da cantora, “Histoire de J.” de 2014. A música, que contém um solo final bem ao estilo “Ovelha Negra” descreve todas as características negativas da narradora que não sabe porque o seu parceiro(a) ainda a suporta, algo com o qual me identifico.

Noxolo

Outra bela canção, mas de um tema pesadíssimo. Noxolo Nogwaza foi uma ativista sul-africana dos direitos LGBTQI+ que teve um destino trágico. Depois de discutir com frequentadores de um bar que estavam se passando com uma amiga, Noxolo foi vítima de violência e assassinato, naquilo que é conhecido como um estupro de correção ( uma prática pela qual homens agridem sexualmente mulheres que se acredita serem lésbicas na tentativa de “corrigir” a sua preferência sexua)l. O assassinato de Noxolo causou comoção dentro da comunidade LGBTQI+ da África do Sul, mais de duas mil pessoas compareceram ao seu funeral, além de ser responsável por inúmeros protestos e campanhas realizados em seu nome.

César

Uma canção com esse nome só poderia me chamar a atenção, mas, por incrível que pareça, ela não foi escrita em minha homenagem (não foi dessa vez), mas sim ao outro César, um pouco mais famoso e mais Júlio. Na verdade, a faixa nem trata muito de César em si, mas da cesariana, prática que trouxe ao mundo o futuro ditador e que ganhou dele seu nome.

Lorsque Tu M’As

Animadinha, essa faixa se diferencia da maioria do seu trabalho graças a presença de uma percussão que vai crescendo e ganhando espaço ao longo da canção, lembrando o trabalho de outra cantora francesa de ótima discografia e com a qual Jeanne já trabalhou, Camille. Uma esquizofrênica canção sobre uma esposa que casou jovem e não sabe o que fazer da vida, mas que vai fazer você mexer o pezinho enquanto a escuta.

Parfait Inconnu

Outra faixa de “Douze fois par an” ela mostra uma lado de Jeanne muito mais presente nos primeiros álbuns, mais acelerado e divertido, e que o tempo (a vida) acabou transformando em algo mais melancólico e contemplativo. Inclusive os temas eram, na maioria das vezes, menos pesados. Essa faixa de refrão grudento nos descreve como a perfeição de um desconhecido cai por terra à medida que vamos conhecendo mais sobre ele.

J’Ai Pas Peur

Outra balada do disco “Charade” (que inclusive conta com uma ótima cover de Arcade Fire), essa faixa não só fala dos medos constantes em um época de tantos perigos, mas de como algumas pessoas já são o suficiente para nos sentirmos seguros nesses momentos. Corajosa e fofa

Un Adieu

Essa canção realmente pratica aquilo que o seu título propõe. Última faixa do último disco de Jeanne “L’an 40” (O ano 40, título auto-explicativo), ela dá adeus ao ouvinte através de uma balada com um excelente arranjo de metais e um coral gospel (que U2 e Blur vão concordar) sempre deixam qualquer música com um ar grandioso e etéreo. Só espero que esse adeus não seja tão longo e que Jeanne logo lance mais discos em minha homenagem.

Para mais textos sobre música, francesa ou não (na maioria das vezes não) acesse o restante do blog. E não deixe de comentar e compartilhar essa publicação.

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