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Alguns discos desconhecidos (ou nem tanto) que você deveria ouvir

Há uns bons anos atrás (mais que cinco, menos que dez) presenciei uma conversa que até hoje me atormenta. Minha então colega de trabalho reclamava que a atual do seu ex namorado (veja bem, é complexo) estava postando músicas da “banda deles”.

Mas o que seria a banda deles? 

Nesse caso era a banda que o casal de pombinhos ouvia junto em momentos românticos de seu relacionamento, porém quando este terminou, a trilha sonora foi reciclada e usada com a nova namorada (que provavelmente também se achava exclusiva).

A colega estava estupefata: aquele era a banda “deles”, a música “deles”, pouco importa que a banda tenha 17.222.756 ouvintes mensais – apenas no spotify – aquela era uma banda especial (fun fact: era uma bandinha bem fuen) e agora estava maculada pelo sistema auditivo de uma outrazinha qualquer.

Esse episódio serve apenas para ilustrar um comportamento muito comum entre o público da música alternativa, um comportamento que representa a figura do diferentão. Você nunca vai ouvir um fã do Henrique e Juliano ou do Molejo reclamando que tem muita gente ouvindo o artista preferido dele. Mas o indie, ele quer ser especial e isso não apenas na música.

Obviamente existem diferentões e diferentes. Eu sei, pois tenho uma carteirinha de sócio, grande parte do meu gosto musical (não só musical) pode ser traduzido na forma do GIF do Pernalonga de Batom. Mas, apesar de todos os meus pecados comportamentais (basicamente reclamar e reclamar e reclamar), não posso ser acusado de desejar exclusividade, pelo contrário, estou sempre indicando artistas ou músicas para os mais desavisados (boink, toma aí uma referência).

Discos Desconhecidos

O que me leva a um outro tipo de devaneio/questão, quais artistas e álbuns que deveriam ser mais ouvidos mas não são? Ou seja, o oposto da exclusividade da ex-colega, quais são os discos que eu gostaria que fossem mais ouvidos, citados e consagrados, mas que por algum motivo não são?

Fazendo uma extensa pesquisa (tentando lembrar de cabeça), me percebi listando discos que, na maioria das vezes, seguem um filtro básico que explica o motivo de esses artistas não serem tão comentados. Geralmente são de bandas que tiveram uma carreira muito breve, um ou dois álbuns no máximo, o que explica a sua pouca divulgação.

Isso não acontece  com artistas e bandas de grande catálogo. Um novo lançamento sempre vai despertar (e desperdiçar) a atenção de seus fãs, pois ele vai ter seus seguidores fiéis.

E o que faz com que “Time out of mind”, disco do Bob Dylan de 1997, seja muito mais conhecido do que alguns exemplos a seguir. Primeiro, porque é um disco realmente bom, segundo, porque a imprensa especializada da época certamente deu destaque ao seu lançamento e terceiro, cada disco novo do Bob Dylan vai ter os dodóis que vão escutar, não importa a qualidade.

Dito isso, vamos à lista. São discos de tamanho, histórico, influência e vendagem bem diferentes entre si. O que eles têm em comum é que deveriam, na minha humilde opinião, serem mais ouvidos.

The Long Blondes – Someone To Drive You Home

Discos Desconhecidos - The Long Blondes

O único disco que importa (de dois) da banda é “Someone To Drive You Home” de 2006. Na época eles eram a próxima esperança de salvação do rock – quando todos torciam para ele não ser salvo.

O som é uma mistura de pop e pré punk, com uma pitadinha de mod. Kate Jackson, a vocalista da banda é uma mistura de Debbie Harris com Jarvis Cocker, um pouco da fúria da primeira com a elegância cult (ou blasé, dependendo do seu ponto de vista) do segundo. Aliás, o visual da banda era todo baseado em roupas de brechó de boutiques chiques.

Os melhores momentos do disco são quando a banda sai dos momentos de violência e aposta em um pouco de gingado e psicodelia, como é o caso de Giddy Stratospheres e You Could Have Both. O segundo disco da banda “Couples” foi um fracasso retumbante e a banda terminou logo depois, tipo o Fleetwood Mac, só que conhecido apenas no próprio bairro.

Elastica – Elastica

Discos Desconhecidos - Elastica

O grande problema envolvendo o Elastica é a infâmia, afinal sua vocalista, Justine Frischmann (fun fact, ela e Kate Jackson nasceram no mesmo dia, com uma década de diferença, significa? não), participou do triângulo amoroso mais famoso do britpop nos anos 90, junto com Damon Albarn do Blur e Brett Anderson do Suede.

E assim como a banda anterior, o Elastica também fazia um som misturando punk e pop e também lançou um ótimo disco (o homônimo “Elastica” de 1995) e outro bem ruizinho. A diferença é que o Elastica é mais cru, rápido e sujo e não se veste como uma Faye Dunaway em Bonnie e Clyde.

É um disco curto, se levarmos em conta que são 16 faixas em apenas 40 minutos e por isso ele dá aquela vontade de ouvir de novo e de novo e de novo. O destaque fica para Waking Up, sobre a dificuldade de acordar e viver, drama que o proletariado vive constantemente.

Kaleidoscope – Tangerine Dream

Discos Desconhecidos

Saímos do britpop e suas vertentes para a psicodelia alemã. Sim, é isso mesmo que você ouviu. Mas calma, o Kaleidoscope canta em inglês, o que faz com que o ouvinte não se sinta constantemente xingado (porque esse pessoal tá sempre tão brabo?)

O disco só poderia ter sido lançado em 1967 (ano dos discos mais loucos de LSD da história) e aqui fica a pegadinha. O disco se chama “Tangerine Dream”, porém a primeira faixa se chama Kaleidoscope, uma confusão causada pelo uso de tóxicos. O Wilco fez algo parecido, mas muito mais organizado, já que o disco se chamava Wilco (the album) e a música Wilco (the song). Muito melhor.

E o que esperar desse disco? Psicodelia. Ecos de Zombies, Beatles e Beach Boys, com seu som característico da época, com destaque para Dive Into Yesterday. Uma bela pedida para uma tarde chuvosa e chá (preto, não de fita).

William DeVaughn – Be Thankful for What You Go

Discos Desconhecidos

Sente no terraço de um prédio, relaxe e veja a movimentação das ruas lá embaixo. Esse é o espírito da música mais famosa de William DeVaughn, Be Thankful for What You Got (Parts 1 & 2), uma baladaça que apenas o R & B e Soul dos anos 70 poderiam apresentar.

O disco de DeVaughn “Be Thankful for What You Got”, de 1974, fez algum sucesso, mas ele já não estava mais interessado na indústria fonográfica. Fato que o fez ficar anos sem gravar. Apenas mais dois discos desde então, um 1980 e outro em 2008, uma produção para fazer Terrence Malick morrer de inveja.

Mas Be Thankful for What You Got (Parts 1 & 2) não foi esquecida, usada em diversos samplers nas décadas seguintes, inclusive sendo regravada pelo Yo La Tengo, banda de rock alternativo conhecida pelos seus covers inusitados.

The Modern Lovers – The Modern Lovers

Discos Desconhecidos

Continuamos nos anos 70, dessa vez em Nova York. Nessa época ainda não havia o punk como o conhecemos, ou seja, ainda não havia milhões de gurizadinhas querendo ser os Ramones (e bem de vez em quando) e os Sex Pistols. As bandas já existiam, mas ainda tinham que dividir o palco com outros sons, às vezes bem diferentes entre si.

É o caso dos Modern Lovers. Seu idealizador Jonathan Richman, era um grande fã do Velvet Underground e ele tentou repetir a fórmula da banda de músicas com repetição incessante de acordes, um vocal mais para o falado que para o cantado e adicionou um tecladinho de churrascaria que dá todo um tempero especial.

O disco homônimo de 1976 é o melhor da banda. Ele divide baladas arrastadas com músicas bem mais animadas e que são os pontos altos do disco como Roadrunner (uma espécie de filha bastarda de Lust for Life do Iggy Pop) e Modern World. Eles podem parecer datados, mas na época isso era super hype (termo que também é datado).

Mercury Rev – Deserter’s Songs

Discos Desconhecidos

As duas próximas bandas/discos são bem conhecidas (pelo seu “público-alvo”), mas geralmente ficam no final da fila quando comparadas com seus pares da época. O Mercury Rev, por exemplo, já tinha quinze anos de carreira e lançado um punhado de discos, quando finalmente acertou a mão.

As faixas de “Deserter’s Songs” te levam em uma jornada, uma road trip levemente lisérgica e melódica que, como uma viagem qualquer, tem grandes momentos (como se avistássemos lugares bonitos e/ou históricos), como Endlessly, Hudson Line e Goddess on a Hiway até o destino final, animadinha Delta Sun Bottleneck Stomp.

Starsailor – Love is Here

Discos Desconhecidos - Starsailor

O que é o Starsailor se não o fruto de uma época. Uma época muito triste por sinal. No final da década de 90, começo dos anos 2000 houve uma brecha em que ninguém sabia o que iria acontecer (Beyoncé aconteceu) e por isso se tentava qualquer coisa como trilha-sonora do momento.

Não à toa esse foi o pior período da história do rock. Se pensarmos nele como um ser humano, essa seria sua fase zumbi. Nessa época as rádios se dividiram entre uma tentativa de emplacar o Nu Metal (que para quem tem a felicidade de desconhecer é uma mistura de rock pesado com o rap mais branco possível) e os filhotes cristãos do Pearl Jam (que coitado, não tem culpa nenhuma): Creed, Nickelback e The Calling, por exemplo. Os traumas dessa época equivalem aos de uma guerra.

Mas nas beiradas das paradas de sucesso havia a tentativa (falha) de criar uma nova opção de salvação: o alternativo-fofinho-dramático. Inspirados pelo Radiohead, que os deu a possibilidade de fazer baladas e poder cantar mal, iam surgindo diversas dessas bandas que gravaram ótimos discos no começo do século como Travis, Coldplay (sim, acreditem, Coldplay!) e o Starsailor.

Esse primeiro disco, de 2001, possui pelo menos duas pequenas obras primas: Poor Misguided Fool e Alcoholic que, contam as más línguas, foram cantadas a plenos pulmões (com direito a air piano) por dois membros deste blog em um Kadett, para assombro de uma família que esperava o sinal abrir em uma rua levemente movimentada de Caxias do Sul.

Emily Loizeau – Pays Sauvage

Discos Desconhecidos - Emily Loizeau

Em tentativas de fugir da chanson française de Mireille Mathieu e afins, minhas buscas em sites especializados (orkut) me trouxeram algumas pequenas preciosidades, “Pays Sauvage” é uma delas. Lançado em 2009 é um disco que mistura a música francesa tradicional, pop e ritmos regionais bem diferenciados. 

Destaque para a faixa título, a divertida mistura de inglês e francês em The Princess and the Toad, La Femme à barbe e Songes. Mas a verdade é que o disco todo é muito bom. O grande problema? Ele não está disponível em nenhum streaming (assim como outros novos clássicos franceses, como “La Femme Chocalat” da Olivia Ruiz), só sendo possível sua audição por meios alternativos (ou seja, baixar por torrent, como faziam os assírios).

Renato Godá – Canções Para Embalar Marujos

Discos Desconhecidos - Renato Godá

Achou que não teria referência datada do Choque de Cultura e disco nacional? Achou errado. Como a nova MPB de pés descalços e violãozinho não me atrai, fui obrigado a voltar até 2010 e trazer a tona essa preciosidade, que só conheci por causa do programa radiofônico Cafezinho (quando, assim como os também os assírios faziam, se ouvia rádio por falta de opção).

Baladas sobre personagens obscuros, misturando rock, pop e uns cabarés “Canções Para Embalar Marujos” traz grandes momentos desse álbum do compositor paulista, com destaque para Cigarros e Cafés, Chanson d’amour e a regravação de Roberto Carlos, Nasci para Chorar.

Para saber sobre discos e artistas lado B, mas com corpinhos de lado A, acesse o restante do blog. E não deixe de nos seguir nas redes sociais para não perder nenhuma novidade.

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