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Gram Parsons, o anjo dolorido

Quando falamos de algum cantor ou banda desconhecido do grande público, mas que tem um grupo de fãs fiéis que não entendem como algo tão bom pode ficar guardado no porão da popularidade, geralmente estamos falando de algo muito chato, como o Yes ou outros do gênero. Alguns são os casos de artistas que gravaram um disco só, por exemplo, ou tiveram sua carreira interrompida por algum tipo de fatalidade (como parte da banda se viciar em World of Warcraft, por exemplo), como é o caso de bandas mucho legais como os Modern Lovers e o Elastica.

Porém, lá de vez em quando, surge um artista que fica soterrado por todos os reggaetons e hard rocks, apesar de todo o sucesso de crítica e devoção dos fãs. É o caso de Gram Parsons, o grande nome do que costuma-se chamar country-rock alternativo dos anos 60 e 70. Ele salvou bandas, destruiu outras e depois destruiu a própria carreira, e nesse processo deixou um punhado de discos maravilhosos.

The International Submarine Band

Gram Parsons, o anjo dolorido - International Submarine Band

Ingram Cecil Connor III nasceu em 5 de novembro de 1976 na Flórida e, como um bom escorpiano, tinha um bom cabelo, mesmo quando rebelde. E, como filinho de papai que era, foi estudar em Harvard. Como estava em Boston teve contato com a música mais branca possível, a country music, o que no seu caso foi algo bom já que esse interesse pelo estilo o fez criar a International Submarine Band (ou Colorado Submarino, para os íntimos).

Basicamente um Wilco do seu tempo, a International Submarine Band possuía a fórmula que seria usada em toda a carreira de Gram, clássicos do country misturados com o rock que se fazia na época, às vezes um pouco mais psicodélico, às vezes mais tradicional.

Com a banda, Parsons gravou apenas um álbum, “Safe at Home”, de 1968 que contém ótimos momentos, tanto que duas músicas “Luxury Liner” e “Do You Know How It Feels to Be Lonesome?” fariam parte do seu repertório nos anos seguintes de mudanças por diversas bandas da época.

The Byrds

Gram Parsons, o anjo dolorido - the Byrds

Por um breve período do folk rock, mais ou menos na virada dos anos 60 para os 70, foi criada uma moda que, em tese, não tinha nunca como dar certo, mas que foi responsável por criar dois discos clássicos. A estratégia era recrutar músicos de escorpião para dar uma melhorada na moral da banda. Veja bem, uma estratégia quase suicida. Foi o que aconteceu com o Crosby, Stills e Nash, que recrutaram Neil Young para revigorar a vibe e nesse processo gravaram o clássico Deja-vu.

Porém os Byrds, antiga banda de David Crosby, já havia realizado esse mesmo processo. Para suprir a saída de Crosby (já sabemos quem foi o chatão da história, não é mesmo?) e Michael Clarke, a banda teve que recrutar um pessoal que tava de bobeira. Gram Parsons, que patinava na carreira com a Submarine Band (pois Boston) foi um dos escolhidos, já que havia se entrosado com o baixista Chris Hillman em jams sessions (guarde esse nome).

A passagem de Parsons pela banda foi rápida, porém impactante. Tratado como um mero músico contratado, um pejotinha qualquer pelos membros originais da banda, Gram se destacou nas sessões do clássico álbum da banda de 1968 “Sweetheart of the Rodeo”.

Além de brilhar como músico de apoio (ele foi contratado originalmente para tocar um pianinho no fundo), Parsons forneceu 3 das 10 músicas do disco, e todas se tornaram, clássicos da banda e da própria carreira: “You’re Still on My Mind”, “One Hundred Years from Now” e, principalmente, “Hickory Wind”, quiçá sua canção mais famosa.

Gram Parsons brilhava tanto no Corinthians Byrds que só deixaram cantar duas das suas músicas, tudo por invejinha. O álbum, um apanhado de canções clássicas do country acrescidas de nomes contemporâneos, como Bob Dylan (lê-se Dailan) foi um sucesso de público e crítica e consolidou a nova fase dos Byrds, ao mesmo tempo que meio que acabou com a banda. Então Parsons resolveu montar um novo projeto.

The Flying Burritos Brothers

Gram Parsons, o anjo dolorido - Flying Burritos Brothers

Ainda em 1968 Gram Parsons saiu dos Byrds, muito pelo fato de que ele não conseguia escrever o nome da banda desse jeito, todo errado. Outros fatores também tiveram impacto e também, mais ou menos nessa época, Parsons começou uma amizade musical (e de outras cositas mais) com Keith Richards. Foi o começo da ideia por trás daquilo que se tornaria o Flying Burritos Brothers, sua nova banda.

Com o antigo membro dos Byrds, Chris Hillman, mais o baixista Chris Ethridge e o pedal steel de Sneaky Pete Kleinow, a banda criou um dos primeiros e mais perfeitos discos de country rock da história “The Gilded palace of Sin”. A começar pela primeira faixa, “Christine’s Tune”, uma embalada psicodelia que conta inclusive com videoclip (viu que modernos) e que serve de cartão de visita para os Burritos Bros: Pedal Steel, distorção lisérgica e terninhos muito estilosos.

O primeiro disco foi responsável por dar ao mundo muito dos clássicos da carreira de Parsons, além da supracitada “Christine’s Tune”, merecem atenção “Sin City” “Dark end of the Street”, “Wheels” e “Hot Burrito #2”. Porém o disco todo é muito bom e merece sua audição na íntegra.

O segundo disco da nova banda, “Burrito Deluxe”, foi menos inspirado e, assim como o primeiro, vendeu pouco. Os Burritos eram muito country para as rádios de rock, e muito rock para as rádios country. O destaque fica para a gravação de Wild Horses, dos Stones, lançada antes que a original britânica. Após mais um fracasso de vendas, Gram Parsons deixou a banda, que continuou sem seu principal talento.

Finalmente solo (pero no mucho)

Gram Parsons, o anjo dolorido - Emmylou Harris

Após um período causando inveja em Mick Jagger em virtude da sua amizade com Keith e abusando um pouquito das drogas na estadia da banda inglesa no sul da França, quando a mesma gravava “Exile on Main street”, Gram Parsons foi mandado de volta para os USofA e para sua (e de outros) surpresa, conseguiu assinar com uma gravadora.

Novamente dois álbuns. O primeiro GP, ganhou a mesma repercussão de seus anteriores Burritos, apesar de conter grandes momentos de Parsons como “Still Feeling Blue”, “That’s All I Took” e a baladaça “She” (que não é a mesma do Elvis Costello) ou seja, ninguém comprou, mas pelo menos deu início a uma colaboração que daria seus melhores frutos no álbum seguinte.

Foi nessa época que Gram Parsons começou sua parceria com Emmylou Harris, veterana da cena Country, mas que também não conseguia fazer sua carreira deslanchar. O melhor trabalho dos dois em conjunto seria o próximo álbum, infelizmente já póstumo.

O retorno do anjo dolorido

Grievous Angels é considerado por muitos um dos melhores discos de country rock de todos os tempos, e rivaliza com o primeiro Burrito como o maior clássico de Gram Parsons. A começar pela faixa título, “Return of the Grievous Angel” uma balada estradeira em dueto com Emmylou Harris. O disco conta com outras baladas desesperançadas como “Brass Buttons”, “$1000 Wedding” e a melhor versão de “Love Hurts” já registrada (até parece outra música sem aquele drama todo da Nazaré Tedesco).

Mas Grievous Angel também traz músicas mais animadinhas como “I Can’t Dance”, “Ooh Las Vegas” (sobre o que iria se tornar o Las Vegas Raiders) e uma ótima regravação do seu maior clássico “Hickory Wind”.

Parsons faleceu em 19 de setembro de 1973, exatamente dez anos antes de uma das datas mais importantes para a humanidade, você pode imaginar do que. E como não poderia deixar de ser, sua discográfica começou a receber atenção póstuma, contando inclusive com um álbum de canções inéditas (o muito bom “Sleepless Night”), mas principalmente através de regravações de seus clássicos pela parceira Emmylou Harris que gravou nos seus álbuns seguintes versões de “Sin City”, “Ooh Las Vegas”, “Luxury Liner” e sua homenagem para o amigo “”Boulder to Birmingham”.

Nas décadas seguintes, a influência do trabalho de Parsons só cresceu, influenciando diversas gerações do country, do rock e dos arredores, especialmente no uso de terno bem transados e floridos (uma espécie de cantor Falcão da época).

Para saber mais sobre (não tão) obscuros ídolos da juventude pós moderna e/ou amiguinhos do Keith Richards (só gente boa), acesse o restante do site para ter contato com esse conteúdo Fabuloso.

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