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Joanna Newsom: um novo som vem pintando aí

Um dos motivos para a criação desse blog, fora fazer inimigos e afugentar pessoas, foi criar a possibilidade de falar de assuntos sem a necessidade de justificativa do tipo: ah mais esse tema aí ninguém vai ler, ninguém se importa com essas pessoas e por aí vai. 

Um desses temas é Joanna Newsom (até que demorou). Ela não está no Spotify (mas está em todos os outros streaming, um dos motivo pelo quais, junto com a propaganda anti vax e a falta de Neil Young, eu não assino mais esse trem aí), no You Tube tem míseros 12 mil inscritos (para efeitos de comparação, a chata da Billie Eilish tem 48 milhões e Taylor Swift 52 milhões de brancos inscritos).

Obviamente existe um motivo, Joanna faz uma mistura bem incomum de folk, música clássica, pop experimental a la Kate Bush (em uma primeira audição ela lembra a cantora inglesa, mas isso logo passa) e outras cositas más. Tudo isso regado a voz um tanto quanto inusitada da cantora e muita, muita harpa (e algum piano).

Ou seja, Joanna Newsom (e seus fãs) é muito diferentona. Acusá-la de indie seria um sacrilégio. Na verdade, o real motivo da criação desse post foi a Copa do Mundo das cantoras Folk pós 2000 (ainda vai sair), campeonato no qual ela sairia campeã com tal facilidade que criar o torneio me pareceu desnecessário. Por isso, limei ela da disputa e criei esse texto exclusivo para menina Joanna, sobre sua música e sua história (nada) trágica.

Hippie

Joanna Newsom um novo som vem pintando aí

A infância de Joanna é o sonho de toda a esquerda cirandeira. Ela e seus irmãos foram criados no interior da Califórnia e com o mínimo de influência da mídia imperialista, ou seja, nada de rádio, televisão e até mesmo discos. A influência musical vinha diretamente dos pais, ambos tocavam instrumentos e influenciaram a filha.

Apesar de já estar na fissura da harpa, Joanna foi obrigada a tocar piano primeiro – um instrumento muito mais eclético e fácil de explicar para os vizinhos e parentes – mas assim que botou as mãos no instrumento angelical, Newsom ficou realizada. Criança prodígio, só não tocava em luas a beira da praia pois: 1) não conhecia as músicas famosas. 2) Não tinha como levar a harpa para areia. Ou seja, uma nerd.

Alternativa

Joanna Newsom um novo som vem pintando aí

Passam-se os anos e Joanna Newsom começa a se inserir no circuito alternativo-moderninho-indie do começo do milênio, que, na época, não era de todo ruim. Ela gravou suas demos para tentar fisgar um contrato com uma gravadora e voilá! Foi exatamente isso que aconteceu, assinando assim com a Drag City.

Lançado em 2004, Seu primeiro disco “The Milk-Eyed Mender” possuía algumas das características que transformariam Joanna em um fenômeno pop: estavam lá a voz (aguda e estranha), a harpa, o clima folk com gostinho de Idade Média – uma trilha-sonora para quem estava de cama na Peste Negra, mas sem as xaropices de espadinha e dragão tão comuns nos entusiastas da época (heavy metal melódico). Ainda assim, parecia que Joanna estava apenas descobrindo o seu potencial, que os próximos discos já trariam um pouco mais da sua personalidade, e logo no próximo ela acertou em cheio.

Ys

Joanna Newsom um novo som vem pintando aí

O segundo álbum da cantora-compositora possui apenas 5 músicas. A mais curta tem 7 minutos. Only Skin, espécie de recheio do disco, tal qual a parte branca do negresco, tem quase 17 minutos. É para os fãs do progressivo e do Iron Maiden venerarem de pé.

Lançado em 2006, o disco foi premiado em diversas publicações especializadas, inclusive ficando em terceiro lugar na lista da Pitchfork, revista conhecida pelas ideias erradas e péssimo gosto e que cria inúmeras listas apenas para me fazer passar raiva.

Ele também entrou na lista do livro “1001 discos para ouvir antes de morrer”, lançado naquele mesmo ano, comprovando o impacto imediato de Ys na música alternativa. Porém o que que veria a seguir seria ainda mais megalomaníaco.

Have one on me

O terceiro disco (e triplo) disco da cantora foi lançado em 2010 e vai ganhar uma sessão própria.

Divers

Joanna Newsom um novo som vem pintando aí

Divers (dívers para os íntimos) foi lançado em 2015 e, até agora, foi o último lançamento de Joanna Newsom. Sua diferença para os antecessores está no fato de que ele está, na medida do possível, mais palatável, quase pop.

Ele possui muito daquilo que acompanha as superproduções (na esfera indie, é claro): capinha transada, videoclipes dirigidos por diretores da moda e uma recepção morna de revistas especializadas que ninguém nunca ouviu falar.

A supracitada Pitchfork, por exemplo, o deixou na décima terceira posição, atrás de gentinha como Tame Impala, Courtney Barnett (que eu gosto, mas né?) e Grimes. O primeiro lugar ficou com Kendrick Lamar, esse sim um baita disco.

Para um disco com intenções mais pops, os destaques ficam com as mais palatáveis: Anecdotes, Sapokanikan (que conta as proezas de Key Alves, abertamente saposexual, e que está na procura de alguém menos inteligente que ela) e a faixa título, que teve videoclipe dirigido por Paul Thomas Anderson. E aqui já estamos na última fase de Joanna, quando ela se tornou uma celebridade mãe de família.

(Sub)celebridade

Joanna Newsom um novo som vem pintando aí

Em 2013, após paparicar um pessoal alternativo, Joanna começou um relacionamento com Andy Samberg (aquele mesmo) ex-integrante do “Saturday Night Live” e na época conhecido por participar de filmes ruins do Adam Sandler (ou apenas filmes do Adam Sandler), mas que após a estréia da série “Brooklyn 99” foi um sucesso de público, crítica e nariz.

Porém nada mais estranho do que o astro de Hollywood (mesmo sendo um astro série C, B no máximo) e a cantora que não tinha nem rádio em casa. Mesmo assim ela gostou de andar com esse pessoalzinho do cinema aí. Com o supracitado Paul Thomas Anderson ela participou e narrou o filme “Vício Inerente”, além de ter feito sua maior contribuição para o cinema/música em um dos filmes mais aguardados de todos os tempos (Os Muppets).

E por ter se tornado uma mãe de família e estar se envolvendo com esse pessoalzinho cinéfilo (tal qual Maikel de Abreu e sua relação com esse blog) se criou o motivo para ela não ter lançado mais nada desde 2015, mesmo com a pressão de seus inúmeros (eu e mais 4) fãs.

“Have one on me” em 5 canções

Joanna Newsom um novo som vem pintando aí

Lançado em 2010, “Have one on me” é o mais ambicioso dos discos de Joanna. Com suas mais de duas horas divididas em 18 canções (e 3 cds na sua versão física), o disco é o que os críticos de música dos anos 80 chamavam de tour de force (não confundir com “Tour de Pharmacy” mockumentary produzido e estrelado por Andy Samberg em 2017).

Meu disco preferido da cantora (muitos fãs ainda preferem Ys), ele contém muitas das minhas músicas preferidas da sua carreira e talvez tenha sido o álbum que mais ouvi na última década, junto com, o já citado nesse blog, “Let England Shake” da PJ Harvey.

Melancólico, etéreo, estranho – características que poderiam ser facilmente aplicadas ao autor desse texto, mas que servem melhor para classificar esse disco, separar apenas 5 canções desse disco é uma tarefa árdua, mas necessária e que serve como apresentação de Joanna Newsom para os mais desavisados. 

Easy

Vamos começar pela mais fácil. Brinks. Easy, que não se trata de mais uma versão igual a original dos Commodores (sim estou criticando o Faith no More), apresenta o que será esse disco triplo: mais piano, muita orquestração, canções um pouco mais palatáveis (mas nem todas) e, obviamente, um pouco de megalomania. Fantasmagórica, ela pode funcionar como uma versão web 2.0 de Wuthering Heights, para quem precisa de fantasmas tentando contato, tal qual o filme Ghost – Do outro lado da vida (as traduções PT-Br são as melhores)

Have One On Me

“Mais megalomaníaca que eu?” disse a segunda canção do disco. Com seus 11 minutos de crescendo e crescendo, a faixa-título conta a história de Lola Montez, uma bailarina e atriz nascida na Irlanda que se tornou célebre como dançarina exótica, cortesã e amante de Luís I da Baviera (que currículo para se postar no Linkedin), que a fez Condessa de Landsfeld no século XIX. Ou seja, novamente Wuthering Heights, só que dessa vez a dança está na letra e não no videoclipe.

Good Intentions Paving Company

Talvez uma das mais estranhas road songs já escritas, Good Intentions tem um ritmo contagiante e é ótima para cantar junto, se você conseguir (não tenho esse dom). Umas das melhores canções da década passada, do ano de 2010 (segundo tuiteiras super no hype e que leem David Foster Wallace no original) e minha preferida do disco, ela é como se você estivesse em uma briga com o nevoeiro.

In California

Um estado de grandes dimensões e populações como o da Califórnia possui suas variações dentro do mesmo. Existe a Califórnia de Hollywood e subcelebridades, a Califórnia do surf e dos esportes reais, e existe a Califórnia afastada do agito, como o filme Lady Bird (também conhecido como prequel da Barbie) ou o livro Big Sur de Henry Miller. É dessa Califórnia pacata e melancólica de que a canção trata.

Soft As Chalk

Um dos grandes momentos de Joanna ao piano, a faixa que abre o terceiro disco é cheia de movimentos que agradariam aos ouvidos mais progressivos (mas não vão). Espécie de irmã menos apocalíptica e mais suave de Paranoid Android, Soft as Chalk te leva em uma viagem psicodélica em um bosque fechado e amedrontador, apenas para te devolver são e salvo e pronto para aproveitar o restante do disco.

Para saber mais sobre cantoras que se livraram das franjas assim que tiveram contato com Hollywood, acesse o restante do blog.

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