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9 lados B do ABBA (só BB no caso)

Você sabe quando exatamente se apaixonou por um artista ou música? Difícil né? Na maioria das vezes você só vai se dar conta de que gosta de algo depois de algumas audições, um processo natural, o qual não é possível identificar dia e hora. 

No meu caso, na maioria das vezes é um processo bem lento. Escuto uma música que me faz procurar o álbum inteiro ou, em outros casos, com a facilidade dos streamings de música, vou direto para um disco específico procurando algo que valha a pena.

Acredito que o último artista pelo qual passei essa experiência foi a Sharon van Etten, que, por ter lançado disco no ano passado e porque o algoritmo do You Tube achou que combinava com minha personalidade, estava sempre nas minhas sugestões. Escutei esse lançamento algumas vezes e gostei de algumas. Mas só foi alguns meses depois que consegui identificar algumas músicas, separar o joio do trigo de álbuns completos e sair com algumas favoritas.

Tirando as exceções que confirmam a regra (lembro até hoje da minha primeira audição de There She Goes my Beautiful World, do Nick Cave com um Maikel de Abreu ao lado, confirmando na hora que se aquela era uma baita música), a maioria das minhas experiências musicais são assim.

Tirando o ABBA

Obviamente não existe como saber quando alguém escutou ABBA pela primeira vez, especialmente se esse alguém nasceu nos anos 80 (não vou dizer em qual altura dele), afinal a banda proporciona um tipo de música tão popular que é impossível para as rádios não tocarem.

lados B do Abba
“agora uma risada com naturalidade”

Minhas lembranças mais antigas são de minha mãe muito emocionada com o filme “O Casamento de Muriel” que conta com músicas do grupo da trilha-sonora. Mas quando o filme fez sucesso lá em casa, eu já era um jovem revoltado que gostava daquilo que os antigos chamam de “rock pauleira”.

Porém, eu sei exatamente o momento em que eu me vi pensando “rapaiz, isso é muito bom”. Estávamos na praia e escolhemos a semana de novembro com maior número de milímetros de chuva da história para nos aventurarmos em uma praia vazia que, de tão feia, parecia o litoral gaúcho. Havia levado alguns CDs para compor a trilha sonora para jogos de cartas homéricos, entre eles uma belíssima coletânea dupla dos Ramones (argentina, por sinal) e uma outra coletânea, ainda mais belíssima, do Blondie (completamente pirata) que fizeram muito sucesso.

Porém havia um intruso nessa trilha sonora, algo que eu não havia aprovado. Se tratava do álbum duplo ABBA: “The Definitive Collection”. O quanto ela era definitiva, isso eu não sei, mas sei que me pegou: uma sequência de músicas pop que eu gostava e não sabia. Quando voltei para a cidade, fui atrás de comprar aquele mesmo CD, estava apaixonado.

Obviamente, apesar de ser tão popular e ser o terror de tias por todo mundo, o ABBA não fez sucesso com meus pares alternativos, mas por isso eu já esperava. O que eu não esperava é que a tia que existia dentro de mim crescesse e crescesse até que eu me deparasse comprando uma caixa com TODOS os álbuns de estúdio lançados (e mais um só com os lados B).

 lados B do Abba
“vamos criar essa base pra Madonna fazer sucesso daqui a 20 anos”

Infelizmente o ABBA não tem tantos discos assim. Se descontarmos o último disco lançado no ano passado (e que não vai entrar na lista) e as 257.123 coletâneas (algumas apenas em espanhol), são apenas 8 discos e que contém, além dos inúmeros hits que embalaram vitrolas e três em uns, algumas pérolas.

A seguir vou elencar uma música desconhecida de cada álbum de estúdio do grupo para comprovar que sim, sua tia teve (pelo menos uma vez na vida) um ótimo gosto musical.

Love Isn’t Easy (But It Sure Is Hard Enough)

Já vou começar trapaceando, já que essa música foi single e aparece em algumas coletâneas (poucas, mas aparecem) do grupo. Ring Ring é o primeiro disco do ABBA e o último em que as vocalistas Agnetha Fältskog e Anni-Frid Lyngstad são tratadas apenas como backing vocals, além de esposas recatadas e do lar.

Musicalmente Love Isn’t Easy é uma balada pop bem ao estilo ABBA, mas sem a grandiloquência e megalomania que, felizmente, será registrada nos discos posteriores, todos, TODOS, grandes sucessos mundiais, para não dizer universais.

Hasta Manana

Uma coisa que o ABBA gosta de fazer é pegar uma expressão em um outro idioma qualquer e transformar em música, afinal essa é uma banda sueca cantando em inglês com um título em espanhol. Nesse caso, Hasta Manana é uma languida balada romântica para comer pão com margarina.

O grupo, desde seus primórdios, lutava para fazer sucesso internacional através do festival Eurovision e esse foi o disco responsável por os revelar, pelo menos para o público europeu, através da faixa título: Waterloo.

Hey, Hey Helen

O terceiro disco do grupo, de dificílimo título de ABBA, já demonstrava na capa em que estágio eles estavam, já que possui os quatro integrantes em uma limusine tomando uma champanhota e rodeados de fãs/zumbis (o que for do seu apreço). É o disco dos hits Mamma Mia e SOS.

Algo muito próximo de um rock, com guitarras e tal, Helen é uma mãe recém divorciada que sai para o mundo frequentando bailões, enquanto deixa a criança com os avós, ou algo assim. Mas ela parece feliz, isso que importa (o seu Helen deveria ser um chato)

Tiger

Muitos apostaram que o grupo nunca faria um sucesso tão grande depois desse terceiro disco. Estavam bem enganados. Difícil foi encontrar uma música levemente desconhecida em “Arrival”, álbum que conta com a música da Noemi (Knowing Me, Knowing You), capitalismo selvagem (Money, Money, Money) e Dancing Queen.

Tiger versa belamente, assim como Every Breath You Take do Police, sobre um stalker. Porém, canções perturbadoras como essa, seguidamente ganham popularidade no Brasil e no mundo. É o caso da versão escabrosa de Menina Linda do Renato e seus Blue Caps, em que é difícil acreditar que os integrantes não foram presos na época. 

Move On

“The Album” de 1977 marca a fase mais megalomaníaca da banda, que resolveu fazer um filme através de suas músicas, tanto que no final do disco existe uma sequência de músicas que conta uma história, num estilo rock progressivo que, se não fosse o ABBA, seria complicado e chato.

Mas não é o que acontece, o disco é recheado de sucessos como Take A Chance On Me, The Name Of The Game e Thank You For The Music. Move On é uma balada melancólica (para os padrões da banda) porém extremamente otimista, o que para uma pessoa como eu pode até causar alergia.

If It Wasn’t For The Nights

Você levou um fora de um broto (acho que ainda se usava broto na época) ou levou um pé na bunda. Nos dias seguintes você até consegue suportar, afinal a rotina faz com que você tenha outras coisas para pensar. O problema são as noites solitárias pensando nela (nele ou os dois, por que não?).

Esse é o tema de uma das mais sacolejantes músicas do grupo e faz parte do álbum disco music da banda Voulez-Vous de 1979, que além da faixa título contém Chiquitita. Mas são as outras preciosidades que fazem esse trabalho fazer a pena, especialmente If It Wasn’t For The Nights com seu refrão grudento, seu arranjo de cordas de teclado Casio e todo o swing que apenas uma banda sueacada poderia trazer. Não é só uma das minhas preferidas do disco, mas de toda a carreira da banda.

On And On And On

Foi difícil escolher uma música não muito famosa desde o disco de 1980, “Super Trouper”. Além da faixa-título, o álbum conta com Lay All Your Love On Me, Andante, Andante e, principalmente, The Winner Takes It All, a mais baladaça das baladas do ABBA e que as tias dançavam agarradinhas pensando ser uma canção de amor, quando basicamente é uma canção sobre o divórcio duplo que acontecia na banda (o famoso efeito Hallelujah do Leonard Cohen).

On And On And On é basicamente sobre ir pegando geral nas festas, tal qual fazem os adolescentes, que acham que pegar sapinho é competição. Ou talvez não seja sobre isso, fica o questionamento.

Soldiers

E se o ABBA fizer uma música “séria” para variar? Esse é outro questionamento e foi respondido no que, até pouco tempo, era o último disco de inéditas da banda, “The Visitors”, de 1982. Devidamente separados, com as pensões alimentícias negociadas e, felizmente, sem nenhum tipo de medida protetiva, a banda resolveu fazer um álbum sem muito amor nas letras, já que né, ele meio que havia acabado.

Então, a fórmula continua com a sonoridade extremamente pop que é sua característica, mas agora versa sobre soldados, guerras, fome, existencialismo, globalismo, transporte público de qualidade, religião, família (cunhado é parente?) e espiritualidade (apenas alguns desses temas realmente são tratados), nessa música tensa com uma batida levemente (mas bem levemente mesmo) militar. 

Dance (While The Music Still Goes On)

Por algum motivo ainda não esclarecido, “Waterloo” recebeu duas músicas nessa compilação. Reclamações serão registradas na sessão, fale conosco desta página. Mas a verdade é que o clima da última música estava pesado e isso não combina com o ABBA, por isso resolvemos fazer essa interferência.

Como o título da música já diz, é para dançar enquanto a música ainda toca (ou enquanto o álcool estiver fazendo efeito) de preferência fazendo aquele movimento com os ombros, característico de tias e mães quando frequentam o dancefloor.

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