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O Portland Trail Blazers no Draft: maldições, escolhas erradas e esperança, afinal

Nos esportes, assim como nos relacionamentos amorosos e nos episódios do Scooby-doo, existem diversas maldições, a maioria delas inexplicáveis, outras em que se sabe exatamente o que aconteceu. Nos esportes norte-americanos em específico, o caso mais famoso é o do Boston Red Sox que trocou seu principal jogador, Babe Ruth (um dos nomes mais importantes e ridículos da história do esporte) e foi amaldiçoado por décadas. Resultado: 86 anos sem um título.

De estádios construídos em cemitérios indígenas até a mais absoluta incompetência, cada time amaldiçoado possui suas razões para tanta derrota ou azar. Em termos de NBA muitas são as equipes que ganharam essa pecha, dos Los Angeles Lakers que perderam 6 finais para o Boston Celtics nos anos 60 ou os vizinhos Clippers, que até alguns anos atrás não haviam sequer chegado até uma final de conferência (a famigerada semifinal).

Em termos de escolher jogadores certos no draft, nenhuma equipe é mais amaldiçoada do que o Portland Trail Blazers, que deixou escapar inúmeras chances de ser um dos maiores times da NBA. Porém nem sempre foi assim.

Quando os hippies venceram

O Portland Trail Blazers no Draft - Bill Walton
Lindíssimo Ale

O Portland Trail Blazers (com exceção da MLS e seus times de soccer) é a única franquia do estado de Oregon, no noroeste dos Estados Unidos. Na maioria das vezes seus habitantes são obrigados a torcer para times do estado vizinho de Washington (tipo Santa Catarina em relação ao Rio Grande do Sul, a diferença é que os catarinenses torcem para os times do Rio de Janeiro, mas a vibe é a mesma) com suas equipes localizadas em Seattle.

Criados em 1970, os Blazers chamaram a atenção pelos belos uniformes e por uma rápida ascensão na liga, especialmente se tratando de times recém criados e que geralmente patinam na mediocridade por anos. Em 1974 eles recrutaram Bill Walton, o melhor jogador universitário da época, e se prepararam para anos de glória.

Bill Walton era o jogador mais cool de uma época em que hippies já não eram tão prestigiados. Barba e cabelos ruivos, faixinha na cabeça e fumando cigarrinho que passarinho não fuma, Walton dividia o tempo entre as quadras, shows do Grateful Dead e protestos contra a guerra do Vietnã desde o tempos de jogador da Universidade de Los Angeles (UCLA), melhor time universitário da época.

Seu começo na NBA foi arrasador, ótimo pivô, um dos grandalhões com o melhor passe de todos os tempos, não demorou para Walton levar a franquia de Oregon para o primeiro campeonato em 1977. O final da década de 70 prometia, os Blazer se candidatava a ser a próxima dinastia da NBA e repetir os feitos de Celtics, Lakers e Knicks.

Mas não foi o que aconteceu, já na temporada seguinte Walton sofreu uma contusão no pé que o marcaria pelo resto da carreira e que não permitiu voltar a sua melhor fase. Apesar de esporádicos momentos aqui e ali (incluindo um título com os Celtics em 1986), Bill nunca mais foi o mesmo (dentro de quadra, fora dela ele continua o mesmo, comentando jogos com camisetas tie-dye e frequentando shows do Dead).

Apesar de frustrantes, as temporadas seguintes deram aos Blazers um novo ídolo, Clyde Drexler, alguns ótimos momentos e uma maldição.

Sam Bowie

O Portland Trail Blazers no Draft - Sam Bowie
Triste, pois seu tio David nunca foi a um jogo seu

A temporada de calouro de Drexler deixou os torcedores de Portland empolgados. Com algumas peças a mais, o time poderia fazer frente aos grandes adversários da época, sobretudo o Showtime Lakers de Magic e Kareem. Essa confiança não era infundada, o time chegou a duas finais da NBA na virada dos 80 para os 90, mas perdeu as duas. Clyde só foi conquistar seu título no final da carreira, quando se juntou à primeira escolha do draft 1984, e ex-colega de universidade, Hakeem Olajuwon no Houston Rockets.

Voltando a 1984, o draft daquele ano é considerado por muitos o melhor da história. A primeira escolha era certa, Olajuwon era considerado na época um dos melhores jogadores universitários de história e sua carreira na NBA confirmou as expectativas, foi um dos melhores de todos os tempos.

Escolhendo na segunda posição, Portland estava em um dilema. Afinal Michael Jordan era uma ótima aposta vinda da Universidade da Carolina do Norte, uma das mais prestigiadas do país. Porém ele jogava na mesma posição de Drexler, será que poderiam jogar juntos e resolver essa questão?

Os Trail Blazers não foram nada pioneiros e escolheram um jogador para a posição que precisavam, Sam Bowie, um pivô vindo da Universidade de Kentucky. Sem nenhum parentesco com David (que por sinal não se chama Bowie), Sam teve uma carreira de decepções e lesões. Rodou algumas vezes e nunca conseguiu jogar todas as 82 partidas da temporada regular.

Já Michael Jordan foi Michael Jordan, que ganhou justamente um dos seus seis títulos em cima de Drexler e o restante de Portland.

Greg Oden

O Portland Trail Blazers no Draft - Greg Oden
Fotos de Greg Oden jogando são itens de colecionador

Apesar da maldição e má sorte, os Trailblazer se recuperaram bem, além das duas finais no começo dos anos 90, a equipe esteve muito perto de voltar as glórias de 1977, mas para o seu azar eles tinham no caminho os Lakers de Kobe & Shaq e apenas uma coisa poderiam parar eles (Kobe & Shaq).

Na temporada 06/07 o time encontrava-se em remontagem, a maioria das estrelas-problemas dos outros anos (e que renderam ao clube o apelido de Portland Jailbreakers) haviam saído. Por outro lado, dois jovens novatos eram extremamente promissores. Brenda Roy e LaMarcus Aldridge eram garantia de sucesso para o futuro, só precisavam das peças certas em volta.

E nada melhor do que ter a primeira escolha no draft. Esse ano específico trouxe ótimos nomes, como os companheiros da Universidade da Flórida Al Horford e Joakim Noah. Jeff Green e o armador Mike Conley tiveram ótimas carreiras na NBA. Mas nenhuma foi tão significativa quanto a de Kevin Durant.

Apesar das controvérsias, Durant foi (até o momento, pois ainda está em grande fase) duas vezes campeão da NBA, duas vezes MVP da temporada regular e finais, além de outras inúmeras conquistas individuais. Mas vindo da Universidade do Texas em 2007, Durant era um ala de bom arremesso e franzino, por isso os Trailblazer apostaram as fichas (novamente) em um pivô, a peça que faltava.

Ao contrário de Bowie que nunca conseguiu se desenvolver como jogador, Oden nunca teve essa oportunidade. Lesionado no primeiro ano, Greg jogou em apenas três das sete temporadas que participou da NBA, as outras todas esteve afastado por lesões. No total foram apenas 105 partidas em sete anos.

Enquanto esteve em quadra ele foi um jogador promissor, justamente o tipo de atleta que o Portland precisava, mas seus joelhos não aguentaram a pressão e sua carreira foi marcada por ser uma das maiores decepções na história da liga.

Scoot Henderson

O Portland Trail Blazers no Draft - Scoot Henderson
Scoot é um apelido. Segundo a lenda é porque ele era muito rápido em quadra, tal uma motinha (scooter)

Novamente os Trail Blazers se reergueram, mesmo com Brandon Roy também tendo uma carreira abreviada por lesões. Comandados pelo ótimo armador Damian Lillard a equipe chegou até as finais de conferência em 2019 e estagnou. E mesmo com Lillard fazendo uma de suas melhores temporadas em 22/23, o time acabou com uma campanha pífia. E, pasmem, um pouco de sorte.

No sorteio da loteria do Draft a equipe pulou para a terceira posição em um draft marcado pelo fato de possuir três ótimos jogadores. A primeira escolha era óbvia, e o alien Victor Sembayama ficou com o San Antonio Spurs. A segunda pertencia ao Charlotte Hornets.

Olha só quem está aqui de novo! Michael Jordan, dono do Charlotte Hornets, um time tão amaldiçoado (e incompetente) que fez com que o ex ídolo dos Bulls vender o time. Mas como última cartada ele irá escolher fazer a escolha na segunda posição do draft. 

Dois nomes são cogitados, o armador Scoot Henderson e o ala Brandon Miller. Brandon Miller tem potencial para ser um grande jogador, muitas vezes comparado com Paul George ou Khris Middleton, ou seja, um potencial all-star.

Já Scoot tem potencial de ser um dos melhores da liga, um MVP. As comparações são com outro armador furioso, Russell Westbrook. O problema é que os Hornets já tem um jogador para essa posição, o espetaculoso LaMello Ball, será que ele e Scoot poderiam jogar juntos? Os analistas achavam que sim, os Hornets decidiram não arriscar.

Scott sobrou para Portland que, dessa vez, não pensou duas vezes e selecionou o jogador, mesmo ele sendo da mesma posição de Lillard. A pergunta agora: será que finalmente a maldição das escolhas de Portland vai acabar? Será que Michael Jordan será o responsável por recriar o fatídico draft de 1984 escolhendo um jogador inferior mas de uma posição necessária? Só o tempo dirá, e as respostas para essas perguntas começarão a ser respondidas na próxima temporada que começa em outubro.

Para mais histórias sobre escolhas erradas, maldições e como torcer para o Sport Club Internacional nos anos 90 foi a mais triste de todas essas, acesse o restante do blog.

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