Não é sempre – na verdade é quase nunca – mas os algoritmos de redes sociais, a cada eclipse lunar, acertam nos conteúdos sugeridos. Quando fui apresentado por Maikel de Abreu para o canal do carismático Rick Beato, outros canais do gênero “teoria musical da música pop” começaram a pipocar na minha timelinda, como os dos igualmente carismáticos Adam Neely e David Bennet Piano e do 12tone (que deve ser igualmente simpático, mas nunca mostrou as fuças).
Somam-se a esses canais muito menos técnicos (não entendo nada de teoria musical, mas gosto de ver os vídeos, tal qual a série Cosmos) como os do Polyphonic e Trash Theory, muito mais voltados para o aspecto histórico, filosófico e literário das canções. Todos trazem um ótimo conteúdo para fãs de música.
Toda essa introdução para dizer que fui vítima de uma indicação interessante: as 100 melhores músicas do gênero rock de todos os tempos. Eu sabia que iria discordar de muitas, pois meu estilo não é do rock malvadão preferido do gênero, então quanto a isso está tudo certo. Porém esse e outros vídeos me despertaram uma dúvida.
Estavam presentes três canções que acho insuportáveis, mas que agradam o tiozão que escuta rock – e que acha que nada mais nada de bom foi criado pós anos 80/90 (quiçá 70), anda de motoca e diz que no tempo dele é que era bom – e me perguntei qual delas era pior: Don’t Stop Believin do Journey, Eye of the Tiger do Survivor ou Final Countdown do Europe (todas bandas de péssimo nome por sinal)?
Cheguei a uma conclusão, porém comecei a lembrar de mais músicas que são recebidas por urros eufóricos pelos tipos acima descritos quando suas primeiras notas são tocadas em muquifos conhecidos como “bar rock” e assim comecei a criar uma lista completa dos piores Hinos do Rock.
E por isso precisamos fazer algumas diferenciações. Hinos são aquelas músicas cantadas a plenos pulmões, inclusive solos, na maioria das vezes são um tanto megalomaníacas e dramáticas. Tentei excluir baladas, especialmente as de metaleiros, pois essas dariam uma lista por si só, porém, infelizmente, elas vão aparecer.
Fora isso, tentei fazer essa lista até o final dos anos 80 (mas não consegui), para serem velhas o suficiente para ser consideradas clássicas, portanto não vão aparecer coisas horrorosas como o grunge pentecostal de Creed e Nickelback, pop punks, emos ou numetal, evidências mais do que óbvias do que o mundo não precisava mais desse tipo de música. Dito isso, vamos a lista:
Eye of the Tiger – Survivor
Como dito antes, as 3 músicas a seguir estão em ordem de menos pior para pior, o que parece impossível, já que a canção em questão é extremamente brega. Feita para trilha sonora de filme dos anos 80 (daquela época que os heróis de ação usavam cropped), Eye of the Tiger possui, assim como muitas músicas dessa lista, um riff grudento e um refrão pegajoso e só. As tentativas do Survivor de emular esse sucesso com músicas idênticas é no mínimo sofrível, porém ela possui um bom momento, quando aparece cantada pela protagonista da animação “Persepolis” em sua versão para as telas.
The Final Countdown – Europe
Praticamente a mesma música que anterior, só que com mais laquê e um riff de teclado que fica entre o rock progressivo e o de churrascaria. Ambas as canções servem para trilha sonora de péssimas performances de videokes espalhados pelo mundo.
Don’t Stop Believin’ – Journey
Essa música consegue ser piores que as anteriores pois possui um elemento Glee nela que torna tudo extremamente performático, o que não é necessariamente ruim (vide Wuthering Heights ou Bohemian Rhapsody), mas que quando somados a um refrão grudento e otimista causa um constrangimento sem igual, especialmente se você tiver o azar de ver a fuça do cantor dessa banda, que parece ter saído de alguma formação clássica do San Marino
Winds of Change – Scorpions
Tentei não incluir nenhuma balada de metaleiro aqui, pois elas são um estilo horroroso a parte, porém ao contrário de bandas com boas músicas até, como Guns’n’Roses ou Bon Jovi, e péssimas baladas (Patience e Bed of Roses, respectivamente, November Rain pelo contrário, é a exceção que confirma a regra), o Scorpions só tem música ruim e Winds of Change é só a mais famosa deles. Brega, com assobio (que torna tudo mais brega, nenhuma música com assobio é boa), melodramática e trilha sonora de uma época terrível para a música, sua reprodução deveria ser crime.
We are the Champions – Queen
O Queen aparece sempre as maiores bandas e melhores músicas do gênero, com repertório extenso e de qualidade, não é difícil imaginar quais as grandes canções do grupo entram nesse tipo de lista. Infelizmente também não é difícil imaginar a chatíssima We are the champions após qualquer final de premiação esportiva. Sem motivo de existir no catálogo de uma banda tão prolífica, ela só mostra que até os melhores erram.
Start me Up – Rolling Stones
Por falar em melhores. Uma banda que lançou “Beggar’s Banquet”, “Let it Bleed”, “Sticky Fingers” e “Exile in Main Street” em sequência, poderia muito bem ter se aposentado tranquilamente, mas naaaaaaão, resolveu perdurar por muito mais décadas que o necessário. O problema do Stones foi (ao contrário dos Kinks com You Really Got Me e All Day and All of the Night, criadas em começo de carreira para aproveitar o hype) tentar compor uma nova Satisfaction. Start me up é a pior e mais famosa dessas tentativas frustradas.
You Better You Bet – The Who
Outra banda que deveria ter parado antes de fazer bobagem. Ao contrário do Led Zeppelin que percebeu que não conseguiria fazer mais nada sem o baterista, o Who resolveu arriscar. E por que, meu deus, POR QUE? As músicas dessa época são verdadeiras aberrações, sem qualquer inspiração, insípidas e com elementos pop desnecessários, ela faz companhia com Who are you como clássicos descartáveis da banda.
Wonderwall – Oasis
Vou criar um atrito com minha comunidade Britpop, mas é necessário. Essa é uma canção que envelheceu mal (na verdade o Oasis é a banda que pior envelheceu do Britpop), especialmente depois de ser coverizada por Dinho Ouro Preto no Planeta Atlântida em uma das performances mais bagaceiras que já ouvi. Song 2 e Girls and Boys do Blur entram como menção honrosa do “movimento”.
Rock And Roll All Nite – Kiss
A regra é simples, se uma canção de rock fala de rock, então ela é ruim (Esse tal de Roque Enrow é quase a exceção que confirma a regra, mas a verdade é que ela é uma das mais fracas do “Fruto Proibido) tal qual a abominável Futebol, Mulher & Rock’n Roll do Dr. Sin, uma das piores músicas já feitas pela humanidade. Rock And Roll All Nite não chega a esse nível de ruindade, mas tá quase lá.
Thunderstruck – AC/DC
Se os Stones tentaram repetir Satisfaction de vez em quando, o AC/DC tentou repetir a mesma música o tempo todo, o que é estranho, já que eles sabem mais de 3 acordes, ao contrário dos Ramones, por exemplo. Dessa tentativa de fazer mais do mesmo Thunderstruck é certamente a pior, parece ter sido criada para servir de trilha sonora de um filme da oitava série de filmes da Marvel, sobre o Homem-Pop-Funko. Ahahahahahahahah tunder!
We’re Not Gonna Take It – Twisted Sister
Como ponto positivo é notório que o Twisted Sister nunca se levou a sério, basta prestar atenção ao visu dos caras que forçavam o estilo Hair Metal até às últimas consequências para mostrar o ridículo do “movimento”. Como ponto negativo é que a música mais famosa deles parece algo criado para servir de trilha sonora para o filme A Vingança dos Nerds. Nesse caso, ambos envelheceram mal.
Born To Be Wild – Steppenwolf
É culpa dessa música que muita coisa de ruim no mundo aconteceu, afinal foi dela que foi retirada o termo heavy metal, o que levou a atrocidades como o black metal, o white metal, o fucsia metal e o cor-de-burro-quando-foge metal. O outro culpado obviamente foi o Tolkien. Fora isso, ela serve para trilha sonora de tiozão de motoca e o que o mundo não precisa hoje é mais tiozões de motoca.
Sweet Home Alabama – Lynyrd Skynyrd
Entramos na ala “levemente racista” da lista. Indignados que Neil Young escreveu uma música contando como o homem médio do sul dos USA era (é) racista, os membros da banda se revoltaram bovinamente e resolveram escrever essa canção patriótica sobre um estado do sul que, como todos os estados do sul, era conhecido por leis discriminatórias, mortes, linchamentos e Klu-Klux-Klan. E pior, ainda chamaram que estavam arrasando.
More Than a Feeling – Boston
A verdade é que eu não sei se a banda Boston é tão racista quanto a cidade Boston (se for, deus me livre). Cria da metade dos anos 70, quando as bandas de rock estavam confusas e genéricas, essa música mostra o que o sentimento comum era de náusea.
Cocaine – Eric Clapton
Eric Clapton não é só um racista notório, como basicamente um seus dois maiores hits foi uma covers de um artista negro em que ele não acrescentou nada de diferente fora sua guitarrinha xumbrega. Clapton passou décadas tentando disfarçar suas ideias e ser uma pessoa normal, mas o movimento anti-vacina e a extrema-direita lhe deram coragem para opinar. Não à toa o Clash (que poderia estar nessa lista com Should I stay or should I go) vinha alertando para as tendência “Torne a Inglaterra Grande Novamente” do músico desde os anos 70.
Born in the USA – Bruce Springsteen
Sim, eu sei que essa música é uma crítica aos USA e que a maioria das pessoas que só prestam atenção no título a compreendem errado. Também sei que Bruce está no lado oposto de beldades como o Clapton. Mas a verdade é que essa música é muito brega, quase tão brega quanto o próprio hino dos Estados Unidos. Uma pena.
Para mais análises de sucessos radiofônicos muito ruins e entender como Obladi-Oblada e Love me Do são duas das piores coisas já criadas pela humanidade (mas não entram nessa lista, pois não se classificam como hinos), acesse o restante do blog.