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Trilha sonora da Patti Smith para um futuro distópico ou um mundo sem Ramones

Você leitor, que é pessoal normal, provavelmente nunca passou por uma situação como essas. Porém aqui estamos falando sobre alguns probleminhas mentais, nada grave, mas que levam para lugares pouco frequentados do pensamento.

Teria outras formas de abordar o assunto, mas optei por começar ela do começo. Estávamos em alguma refeição, minha esposa e eu, quando comentei como seria diferente o mundo se ao invés de Tolkien, o autor preferido do Led Zeppelin fosse Dostoiévski, o quanto nossa vida seria impactada?

Pense só, todo um gênero provavelmente deixaria de existir, o famigerado metal-carretinha (marca registrada) seria substituído por um outro tipo de música. Menos Laquê, mais barbas e costeletas. Menos calças coladas e mais sobretudos puídos. As capas do Iron Maiden provavelmente continuariam as mesmas no começo de carreira, mas depois deixariam os temas de faraó para o Earth, Wind and Fire e se concentrariam na Perspectiva Nevski.

Fantasy voou para que o Powerslave pudesse andar correndinho

Teríamos um outro tipo de metal, assim como teríamos outro tipo de metal para mães, o hard rock. Bandas como Scorpions, Poison, Motley Crue e outras do gênero nunca teriam existido ou então seriam de um híbrido de baladas melosas, rock, e polca, tudo com muitas balalaicas e pepino em conserva.

Você provavelmente teve uma ideia melhor da encrenca onde está se metendo. Bom, nesse post faremos um exercício parecido, vamos pegar um momento da história e vamos mudar apenas um pequeno detalhe e, finalmente, destruir o mundo como o conhecemos.

Um mundo sem Ramones 

Testaremos a hipótese em um mundo em que as diversas camisetas dos Ramones, usadas por pessoas que não sabem que é uma banda e por pessoas ainda piores, as que acham que é preciso saber toda a discografia de um artista para usar uma camiseta, não existiriam. Pois não existiria Ramones.
Luvas de couro? Jaquetas de couro? Botinas de couro? Nada disso seria necessário, as vaquinhas e o planeta agradeceriam. Outro ponto positivo na não existência dos Ramones  seriam as bandas influenciadas por eles, mas estou me adiantando.
A versão adulta dos Ramoninhos
Lá vamos nós então, como seria essa aniquilação dos Ramones? Simples, vamos substituir eles por uma banda melhor da mesma época e local, com uma exceção, o Joey Ramone. O Joey Ramone era legal.
Estamos em 1975, em Nova York, no lendário CBGB’s. Por algum motivo, alguma peça do destino, alguém confundiu as datas e marcou um show dos Ramones no mesmo dia que o da Patti Smith (eu sei que eles tocaram várias vezes na mesma noite, isso é só um exercício). Johnny Ramone então ficou brabinho e saiu enfurecido noite afora. Joey e o restante do público ficou. Depois do show ele resolveu acompanhar Patti Smith e o Grupo para tomar café, e nessa mesma noite ele decidiu sair da banda que ele estava.
O motivo na verdade foi bem simples, cansado de ouvir do guitarrista como ele adorava o Nixon e que ele, como homem branco e hétero, era uma minoria, Joey resolveu tentar a sorte em outras bandas. Já o Ramones continuou, mas durou apenas mais 5 shows com o Didi como vocalista.

Mas quem vai ficar no lugar dos Ramones?

A resposta é simples. Ninguém. Ao invés de 67,3% dos adolescentes rebeldes escutarem uma banda só, a ponto de criarem diversas bandas covers dela depois de aprenderem lá, dó e sol, essa influência seria diluída. Isso não seria totalmente ruim, mas também não necessariamente bom. Provavelmente não existiriam bandas como o Motorhead (ou pelo menos não na versão que o conhecemos), em compensação teríamos um mundo bem melhor sem o Matanza (na verdade existe um mundo idílico onde não existem bandas de rock carioca).
Logo depois desse show ela foi tomar bons cafés
Outras benesses são ainda mais óbvias, porém não menos empolgantes. Sem os Ramones seriam eliminados todo um gênero musical, o pop-punk. Imagine aqueles quadros pentecostais de cachoeiras, árvores, animais de todas as espécies e famílias brancas felizes, seria mais ou menos assim.
E não estamos falando de uma felicidade a nível primeiro mundo, obviamente boa parte do mundo se beneficiaria de uma existência sem Blink-182 e similares, mas também em termos regionais. O Rio Grande do Sul seria muito mais feliz sem Tequila Baby tocando a cada meia-hora na Rádio Atlântida, porém o Brasil seria uma terra de amor e esperança, livre de qualquer Raimundos e suas desdobres evangélicos (sim, estou falando de Rodox).

Um mundo com bandas cover da Patti Smith

Sim, basicamente isso. Joey Ramone iria se tornar membro da banda e por conta disso levaria um pouco de seu carisma, dessa forma uma parcela dos fãs ficaria com Patricia Silva e seu Grupo. Mas você está dizendo que haveriam bandas cover declamando poesia no palco de inferninhos, milhares e milhares de Legiões Urbanas? Pra começo de conversa isso é culpa do Morrissey, e não, o pessoal teria mais noção e focaria mais em versões de canções clássicas. Para dar uma ideia desse mundo distópico, separei cinco músicas que você poderia estar ouvindo em algum bar por aí ao invés de hey ho let’s go pela 113.364 vez.

Dancing Barefoot

Do quarto álbum do, então, Patti Smith Group, Wave de 1979. Patrícia está nos convidando para dançar com os pés descalços. Obviamente isso não seria possível no CBGB’s ou se tornaria caso de saúde pública. De preferência só faça isso em casa, de meias, no chão encerado e com performance (eu nunca fiz isso, me contaram).

Ask the Angels

Primeira faixa do segundo disco, Radio Ethiopia, de 1976 é outra canção contagiante, cheia de embalo jovem. O segundo disco da cantora deixou a desejar em relação ao primeiro (Horses, 1975) que é uma obra-prima, mesmo assim ainda é um ótimo álbum.

Glitter In Their Eyes

Pulamos para 1999, a sétima faixa do álbum Gung Ho, tem a participação de Michael Stipe do R.E.M no coro do refrão e a letra faz alusão aos carnavais e impossibilidade de se livrar do glitter por meses, outro momento de preocupação da autora com a saúde pública.

Rock’n’Roll Nigger

Nessa faixa polêmica do terceiro álbum da cantora (Easter 1978), Patti tenta resgatar a alma negra responsável pela criação do rock’n’roll e para isso bota Jimi Hendrix, Jesus e a própria vovó nessa mistura. As partes em que ela canta sobre ser uma ovelha negra são óbvias referências a Rita Lee.

Free Money

Outra polêmica. Agora Patti quer ganhar na loteria e sair distribuindo dinheiro. Um absurdo. Inúmeros são os relatos de fãs que gritavam que ela deveria ensinar a pescar ao invés de dar o peixe nos momentos de execução dessa faixa que faz parte do primeiro disco da cantora, Cavalinhos do Fantástico, de 1975.
Não deixe comentar o quanto você iria gostar de viver nesse futuro, e aproveita para ler outros posts do blog tão gratificantes como este.
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