Ser um adolescente entediado dos anos 90 foi uma experiência… muito entediante. Veja bem, não havia celulares, obviamente não havia streamings ou youtube. Já havia internet, mas na maioria dos casos eram sites feios, feitos de firmas para firmas, ou seja, não havia nada para fazer. “Ahh, mas tu podia ir lá fora, pegar um sol, jogar futebol”. Vocês já me viram jogar qualquer coisa? Não vou nem comentar a parte de pegar um sol ou frequentar parques…
O que restava era assistir TV e nesse caso havia uma luz no fim do túnel, pois já havia tv a cabo e não era mais necessário escolher entre o Vídeoshow e uma reprise de A Usurpadora todas as tardes. Haviam dezenas de canais, quiçá centenas, cada qual com sua programação fuleira e pouco interessante, mas só o fato de ir passando um por um (a famosa via sacra) já era responsável pela extinção de alguns minutos.
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Coincide com essa época a manufatura de diversos enlatados americanos de qualidade duvidosa, tanto que fui procurar a nota deles no IMDB e basicamente, com a exceção de Seinfeld e Friends (que deveria ter uma nota muito pior, mas OK), todos eles tem uma nota abaixo de 8,0, alguns abaixo de 6,0. E eu, obviamente, assistia a todos.
Estamos falando da créme de la créme desse tipo de produção audiovisual, quando qualquer ideia era válida (desde que não envolvessem negros e latinos) a ponto de uma das séries de maior sucesso (3rd rock from the sun, nota: 7,8) ser sobre uma família de extraterrestres que veio fazer um estudo de campo antropológico numa cidade do interior dos Estados Unidos.
Estamos falando sobre verdadeiros clássicos. Tudo Por Um Gato (note: 6,2) onde a vilã da família Buscapé era uma desenhista (?) de tirinhas e apaixonada pelo colega (?) que queria ser o próximo Kandinsky. Just Shoot Me! (nota: 6,9) sobre uma agência de modelos, cujo o único motivo de existir era servir de veículo para as piadas ruins do David Spade (um dos que fazem filmes com o Adam Sandler). Ou Dharma e Greg (nota: 6,4) sobre um executivo almofadinha casado com uma hippie em San Francisco, era isso, essa era a história.
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Não à toa, no novo milênio o pessoal cansou desse modelo e tentou coisas novas, inclusive na comédia. The Office, Parks & Recreation, Bojack Horseman, The Good Place ou Crazy Ex-girlfriend pareceriam nos anos 90 mais alienígenas que os personagens de 3rd rock from the sun. Ainda assim, tivemos exemplos desse tipo de show decadente como 2 broke girls, Mom, 2 homens e meio e The bing bang theory, mas felizmente eles são cada vez menos comuns.
Em homenagem a essas séries tão ruins que chegavam a ser boas, montei uma versão dela com jogadores da NBA, tendo em mente que os cenários teriam que ser um pouco mais avantajados para abrigar um elenco com média de 2 metros de altura. Apenas um detalhe. Vamos conhecer os personagens:
Personagem principal – Klay Thompson
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Jogadores de basquete, esportistas em geral, já são estrelinhas o bastante, ou seja, é muito fácil para eles se acharem personagens principais da suas próprias vidas quando se é alto e milionário. Por isso, precisamos de alguém cuja personalidade seja a mais lo-fi possível, ao mesmo tempo que, no mínimo, um pouco interessante. Uma tarefa quase impossível até se lembrar de Klay.
Tudo o que Klay quer da vida é jogar basquete, andar de barco, passear com seu cachorro (Rocco) e consumir aquele cigarrinho de artista. Nada de desfiles de moda, festas extravagantes ou podcasts. Ele só quer ficar na dele, curtindo a brisa (não disse qual) e jogar o desporto basquetebola.
O amigo – Boban Marjanović
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Para o personagem de melhor amigo, o natural seria escolher seu companheiro de time, o outro membro da dupla Splash Brothers, Stephen Curry, mas essa seria uma escolha muito óbvia. Pensei em CJ McCollum, que parece um cara bacana e nasceu num dia ótimo, porém não existe melhor companheiro de time que Boban. Esse gigante gentil (apenas 2,24m de altura) faz amigos pelos times por onde passa. Adorado pelos colegas e pelos adversários, ele é a escolha perfeita.
O bonitão – Kevin Love
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Algumas séries apostam naquele personagem bonitão, mas não muito esperto (Kelso, Joey, Agostinho Carrara). Não é o caso de Kevin. Porém com esse sobrenome é possível imaginar uma dezena de situações onde ele tem problemas com as coisas do coração, sorte dele possuir bons amigos para ajudar nessas horas (happy hours).
O estranho- Jimmy Butler
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Outro personagem comum nessas séries é o amigo estranho, ou as dezenas de tentativas de recriar Cosmo Kramer que deram errado. Para nossa série o escolhido é Jimmy Butler, pois ele é esquesito, mas de certa forma inofensivo. Ele criou uma empresa de café (Big Face Coffee) que vendia todos os tamanhos pelo mesmo preço, fez implante nos cabelos entre as temporadas apenas para tirar fotos e ainda por cima jurou que eram naturais, é amigo do Mark Wahlberg (não tão inofensivo assim) e gosta de música country. Weirdo.
O adversário – Devin Booker
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Nem todos os personagens principais precisam de um inimigo, em algumas das séries a própria qualidade era seu principal inimigo, mas nesse caso vamos criar uma intriga básica. Fortes nomes foram considerados: Ja Morant por ser cool e ter arranjado confusão com todo o time de Klay, Pat Beverly e Jae Crowder, pois ninguém gosta deles, inclusive os companheiros de time (são Bobans invertidos), mas depois de Klay ser expulso pela primeira vez na carreira depois de uma desavença com Devin Booker, acho que temos um vencedor.
Booker, que apesar da cara de bom moço, já tretou com um mascote (O Raptor, do Toronto Raptors), namorou Kendall Jenner por dois anos e tem Armani como nome do meio, tem tudo para ser um bom vilão.
O local
Como sabemos Klay gosta de mar, onde tem mar tem praia. O problema da praia é que tem surfistas, o que torna toda a questão bem desagradável. Felizmente o local escolhido foi um bar na beira da praia, já que se é para aguentar surfistas, pelo menos que não seja sóbrio.
Parentes
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Klay é filho de Mychael Thompson, jogador dos Showtime Lakers dos anos 80 que por si só já é uma personalidade e tanto, seria ótimo ter a participação dele. Bill Walton, um dos jogadores mais hippies que já se teve notícia poderia ser aquele tio malucaço que aparece de vez em quando. Não tem como ser mais anos 90 do que isso.
Chefes / colegas de trabalho
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O verdadeiro chefe de Klay, Steve Kerr não seria uma má escolha, já que é um bocado carismático e com experiência em tv, mas ele tem um time para treinar então fica difícil. Por isso escolhemos Steve Nash, que também tem um time para treinar (o Brooklyn Nets), mas com a diferença que os próprios jogadores já pediram sua demissão, ou seja, já é bom ter um outro trabalho em vista.
Por fim, um pouco de ufanismo. Para colega de trabalho escolhemos outra presença simpática, Leandrinho Barbosa, brasileiro que foi colega de Klay nos Warriors e que também era adorado por onde passava, uma versão samba e pagode, Ronaldinho no rolê aleatório, de Boban.
Tudo pronto, agora é só convencer um produtor de tv a investir nessa ideia fabulosa. Não deixe de comentar, qual foi sua série ruim favorita e por que Surf não é um esporte.