Logo Cohenismo

6 clássicos, 6 músicas longas demais e 6 pouco conhecidas. Uma lista para ilustrar uma obsessão juvenil pelo Iron Maiden

Com o final da temporada da NBA o número de podcasts sobre o tema começa a rarear,  o que deixa espaço para eu colocar alguns programas em dia. É o caso do sensacional Discoteca Básica, que conta a história de um disco clássico por episódio.

Vergonhosamente estava bem atrasado em relação a última temporada, com episódios lançados na metade do ano passado, e resolvi escutar um que, na maioria das vezes, teria passado batido, já que é um dos estilos musicais pelo qual tenho menos paciência: o heavy metal, especialmente do tipo charretinha.

Porém, esse episódio específico, se tratava de um dos discos que mais ouvi entre os anos 1995 e 2000, quando estava completamente mergulhado no metal de calça de couro apertada, referências históricas e agudos. Se tratava de “The Number of the Beast”, terceiro disco do Iron Maiden, de 1982.

uma juvenil obsessão pelo Iron Maiden

Escutar esse episódio (com os devidos pulos da entrevista de Régis Tadeu, pois não sou obrigado) me trouxe inúmeras lembranças e sentimentos de nostalgia de uma época que, graças a Deus já passou, mas que infelizmente marcou a formação do meu parco caráter. 

Essa é uma versão da minha fugaz história de amor com a Dama de Ferro, que durou mais do que deveria, mas que felizmente não teve nada a ver com a Margaret Thatcher. 

VHSs, VHSs everywhere

Em algum momento da metade dos anos 90, eu, Cabral e Oliva, resolvemos assistir dois VHSs (se você não sabe o que é um VHS, eu que não vou tentar explicar) que conseguimos emprestados com membros de nossas respectivas famílias: 12 Wasted Years do Iron Maiden e uma apresentação ao vivo do AC/DC (não lembro qual, são todas iguais).

uma juvenil obsessão pelo Iron Maiden
incrivelmente, fui fisgado nesse momento.

Começamos pelo Iron (que é o jeito carinhoso pelo qual nos referimos a banda): O filme abre com uma apresentação da turnê do recém lançado “Somewhere in Time” de 1986. Stranger in a strange land tem todas as credenciais de uma ótima música do Iron Maiden, melódica, grudenta, baseada em alguma obra literária ou do cinema pouco conhecida, extremamente megalomaníaca e aguda. 

Ao final da canção, com Bruce Dickinson sendo elevado por uma mão inflável gigante, eu já estava completamente fascinado. Porém “12 Wasted Years” é um documentário, e assim que meus colegas viram que teriam que ler alguma coisa, a fita foi substituída pelo AC/DC, apesar do meu protesto. Porém eu fiquei com a missão de assistir aquele filme sozinho, no conforto do meu lar. Que erro.

Gerando lucro para a editora Escala

O que se seguiu foi digno de alguém recém introduzido a alguma forma de culto. Um dos meus primeiros CDs (recém havia ganhado um CD player) foi “Fear of the Dark” (fun fact: eu e o supracitado Oliva conseguimos que a música Fear of the Dark fosse objeto de tradução em uma aula de inglês que, por incrível que pareça, não agradou toda a classe). Quase todos os subsequentes também foram do Iron.

uma juvenil obsessão pelo Iron Maiden
tinha tudo isso aí e muito mais (me livrei de tudo)

Eu ia comprando, um por um, com o meu suado dinheiro que eu não havia feito nada para merecer. Mas não eram só CDs, eram revistas, posters, camisetas ou qualquer coisa que se relacionasse com o Iron Maiden. As revistas em especial eram contadas em dezenas: eram especiais sobre a banda, na capa de alguma publicação especializada (tipo Metal Head, péssimo nome por sinal), ou qualquer outra tranqueira que a editora Escala criava para levar meus parcos reais contados.

Outra contribuição para este culto veio do canal Multishow. Me peguei desprevenido assistindo uma parte considerável da ótima apresentação de 1985 (“Live After Death”, que contém o igualmente ótimo disco homônimo) e, obviamente, fiquei descontrolado. Todo mês eu escaneava a revista da NET para ver se a apresentação entraria novamente na programação. E ela entrou e finalmente pude gravar um outro VHS.

Toda essa história é muito linda, se não fosse a pior época para ser fã do Iron Maiden na história. E essa história tem um vilão clássico: Blaze Bayley.

O horror, o horror 

Em um dos inúmeros CDs do Iron Maiden que possuía e que eram completamente irrelevantes, havia um em que constava uma linha do tempo da formação da banda (acredito que era o “a Real Live One”). Aquilo era assustador, parecia a briga pelo trono na formação da Inglaterra, cabeças rolando por pouca coisa, intrigas e traição, e um monte de nomes que não faziam sentido nenhum.

uma juvenil obsessão pelo Iron Maiden
ódios diferentes para vocalistas medíocres diferentes

Em um determinado momento começavam a aparecer nomes que tinham alguma relevância, como a do vocalista dos dois primeiros discos da banda, Paul Di’Anno (que desde que foi chutado do Iron Maiden vive a custa de fazer shows lamentáveis para um público nostálgico daquilo que não viveu na Latin America. Isso sem falar que é um vocalista no máximo ruim e com péssimas ideias).

Mas a verdade é que só existiu uma formação do Iron Maiden que importa, a que vai da gravação seguinte a “The Number of the Beast”, “Piece of Mind” do sagrado ano de 1983, até “Seventh son of a seventh son” de 1988, outro discaço. Fora isso aí, o negócio já começa a ficar bagaceiro.

Mas se a troca de bateristas e guitarristas já causa um impacto negativo, imagina a troca de vocalista. Agora imagine que nessa troca de vocalista o escolhido possua a qualidade de um guitarrista ruim de uma banda cover de Ramones.

A participação de Blaze Bayley na história do Iron Maiden deveria ter sido punida pelo tribunal de Haia: dois péssimos discos, uma voz que não combinava com a banda e costeletas completamente fora de moda. E essa era culminou justamente com a minha obsessão pelo grupo.

uma juvenil obsessão pelo Iron Maiden
eu era feliz e não sabia (tinha alguns meses de vida)

Imagine passar cinco anos desejando um milagre: que por algum motivo, pessoas que ninguém havia ouvido falar finalmente fizessem as pazes, apenas para que você pudesse ser feliz? Eu apenas poderia imaginar como seria novos discos com Bruce Dickinson de volta, um tipo de felicidade que eu não saberia como suportar.

E esses discos imaginados meio que já estavam sendo lançados, afinal o vocalista havia lançado dois ótimos discos em companhia do ex guitarristas do Iron, Adrian Smith (responsável por nenhuma teoria sócio-econômica): “Accident of Birth” e, o megalomaníaco e cheio de referências bem ao estilo cativante do Iron Maiden, “The Chemical Wedding” (baseado na obra de William Blake), quiçá o melhor disco lançado por algum algum afiliado a banda nos anos 90 (inclusive a própria banda).

Mesmo assim não era a mesma coisa, eu precisava do baixo galopante e cabelo de fazer inveja de Steve Harris, dos bondosos olhos de Dave Murray, do charme blasé de Adrian Smith e altura descomunal de Bruce a frente no palco. Então eu finalmente tive.

Felicidade e sol nas bancas de revista

Entre rumores e delírios, eis que eu vejo a capa de uma revista em uma banca do Centro (quando havia bancas de revista): Bruce Dickinson estava de volta ao Iron Maiden. Foi um dos dias mais felizes da minha vida, rivalizando com tetra em 1994, os Lakers campeão em 2020 e quando eu e Maikel passamos no Financiarte (minha formatura não chegou nem aos pés).

uma juvenil obsessão pelo Iron Maiden
Celebrate good times, come on

A partir desse momento foi só esperar, o sonho logo se realizaria, teria a oportunidade de acompanhar o lançamento de um ótimo disco do Iron Maiden (eu tinha certeza que seria um clássico). E foi o que aconteceu, eles lançaram “Brave New World” em 2000 e, como em um passe mágica (negra), eu perdi todo o interesse pela banda. Estava cansado das músicas longas, das calças apertadas e cabelos de fazer inveja, dos agudos, da maldade e dos temas tão longe da realidade.

Assim que me despedi do Segundo Grau (vulgo ensino médio) me despedi do metal e, mais precisamente do Iron Maiden, só pegando um disco a cada seis anos para tentar reencontrar a graça que eu achava e se ainda sabia alguma música de cor (ainda sei várias). 

E para homenagear esse momento, criei essa lista com seis clássicos, seis músicas muito longas para serem boas (mas que são) e seis pouco conhecidas da minha preferência. Obviamente essa lista só vai até o ano 2000 (e olha lá), já que tudo o que aconteceu com a banda após essa data é um completo mistério para mim.

Os clássicos

Flight of Icarus

Essa música tem tudo o que um clássico do Iron Maiden exige: uma história mitológica, agudos e um refrão garranchudo. Ótima introdução para a mitologia grega para jovens nerds que ainda a pouco haviam sido bombardeados por esse tema através dos Cavaleiros do Zodíaco.

2 Minutes to Midnight

Essa aqui é maldade pura. Um dos maiores sucessos do Iron, ela tem aquela ponte cheia de malemolência teutônica antes de entrar em mais um refrão para cantar a pleno pulmões e fazendo performance (o Iron Maiden é basicamente um Abba com solos maiores).

The Evil That Men Do

Uma das minhas preferidas de todos os tempos, pelo título é possível entender o seu tema, as coisas horríveis que os homens fazem como: abacaxi na pizza, sertanejo universitário e redes sociais em geral.

Holy Smoke

O Iron Maiden é tão velho que chegou a ser pra frentex, como nessa canção que denuncia as pequenas igrejas grandes negócios, especialmente dos EUA, responsáveis porém fogueiras santas com os discos “satanistas” da banda. Toda publicidade é boa publicidade, inclusive a ruim.

Children of the Damned

Essa sempre mexeu com meu coraçãozinho. Começa lenta, cheia de clima para explodir em um refrão de fazer inveja ao Chitãozinho e Xororó. Mas não pense que se trata de uma balada de metaleiro, umas das piores formas de música produzidas pela humanidade, pelo contrário, é uma ótima música com apenas alguns clichês do estilo.

The Trooper

A música mais Iron Maiden do Iron Maiden, ela tem todos os componentes responsáveis pelo sucesso: riffs em uníssono, um baixo cavalgante (bem de acordo como tema da música), um refrão com ôoooooo e a letra sobre alguma batalha na história da humanidade. Clássico

Músicas muito longas para serem boas (mas que são)

Hallowed Be Thy Name

Apesar de “The Number of The Beast”, o disco, ter diversos clássicos da banda, essa é a música que transformou o Iron Maiden em Iron Maiden. Com seus oito minutos de clima sombrio e maldade, ela fecha esse que é considerado por muitos o melhor disco da banda.

Phantom of the Opera

Steve Harris, que é quem manda prender e manda soltar na banda, já queria fazer grandes monumentos musicais desde os primórdios do grupo, é caso dessa canção de mais de sete minutos baseada no Fantasma da Ópera, mas que os vocais de Paul Di’Anno impedem de ser perfeita.

Seventh Son of a Seventh Son

Lembra quando eu falei que o Iron Maiden era megalomaníaco, esse é o seu maior exemplar. Seventh Son of a Seventh Son é a faixa-título desse disco temático sobre um anjo messiânico ou algo assim, que me marcou tanto que serviu de referência (cópia) para meu primeiro (e talvez melhor) livro, um projeto da oitava série datilografado pelo meu pai em uma máquina de escrever elétrica e que ganhou uma nota menor que 77.

Powerslave

Além de uma bela voz e cabeleira digna de propaganda da L’Oreal, Bruce Dickinson trouxe para a banda uma formação em história que combinava muito com a nerdice oculta do Iron Maiden (razão do seu enorme sucesso com adolescentes). Com mais de sete minutos, a canção tem uma temática de mitologia egípcia, bem de acordo com os gostos da banda (que infelizmente não fez nada parecido em relação a Revolução Francesa)

Rime of the Ancient Mariner

A faixa seguinte e que fecha o disco “Powerslave” tem simplesmente mais de treze minutos e conta a história de um barco amaldiçoado ou algo assim. Ela é baseada em um poema de Samuel Taylor Coleridge de 1798 e tem alguns trechos da obra recitadas no meio da canção (e que eu infelizmente sei quase de cor).

Revelations

Quase uma balada punk, já que conta com apenas seis minutos e cinquenta segundos, é outra canção baseada em mitologia egípcia (existe um padrão, como vocês podem ver) e não vai agradar os fãs de Bed of Roses do Bon Jovi.

As pouco conhecidas

Die with Your Boots On

Os fãs do Iron vão dizer: “dã, nada a ver, todo mundo conhece essas músicas.” Não é verdade, só os obcecados vão se lembrar dessa divertida música de como morrer com as botas calçadas, canção que inspirou a série “A sete palmos”.

Sun and Steel

Metaleiro, pelo menos do estilo melódico e melodramático, gosta de uma espadinha e essa é uma rápida e fácil canção sobre o tema. Com um refrão especialmente grudento é uma ótima opção para performances no banho.

Flash of the Blade

Achou que não ia ter mais música sobre espadinha? Pois essa está escancarada no título. Essa sempre foi uma das minhas preferidas do ótimo álbum “Powerslave” e nunca entendi como não fez mais sucesso com os fanzocas da banda.

Stranger in a Strange Land

Como foi a primeira música que escutei da banda, achei que ela merecia espaço em algum lugar da lista. Do disco “Somewhere in time” e sua capa que fiquei por horas e horas e horas tentando decifrar as referências, ela é o ponto alto desse disco menos inspirado que os anteriores.

Murders in the Rue Morgue

Tá, essa é na verdade bem famosinha, mas precisava incluir essa canção baseada nos “Assassinatos da Rua Morgue” de Edgar Allan Poe. A obsessão era tanto que eu resolvi ler o livro na época e não entendi nada (fui ler mais velho e ficou bem melhor), assim como não entendia o que era um gendarme que aparece na letra da música.

Moonchild

Faixa de abertura de “Seventh Son”, ela começa o disco com tudo, criando o clima para história que provavelmente não entendi direito (eu me baseava em um punhado de revistas com TODAS as letras traduzidas, mas que careciam de contexto em relação aos temas). Novamente agudos e refrão garrancho. Nota 7 sobre 7.

Para ler outros textos sobre meu ótimo musical (pós anos 2000) acesse o restante do blog, juro que o número de cabeludos e maldade é bem menor.

Para receber as novidades do blog, assine nossa newsletter

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Nos siga nas redes sociais
Compartilhe esse post

Acesse o projeto no padrim e nos ajude a continuar criando conteúdo de qualidade.

One Hit Wonders dos anos 80 para ferver no dancefloor
Música
Cesar Mateus

One Hit Wonders dos anos 80 para ferver no dancefloor

Algumas semanas atrás causei discórdia com algum dos membros deste blog ao elaborar uma lista, de caráter puramente científico, sobre os piores hinos do rock (isso que deixei vários cacarecos fora dela). A minha intenção original era, ao final dessa lista criar um contraponto, sugestões para tirar o azedo da

Leia mais »
Guia imparcial para quem você deve torcer na NFL
NFL
Cesar Mateus

Guia imparcial para quem você deve torcer na NFL

É muito difícil saber o motivo que levou uma pessoa, pelo menos aqui no Brasil, a escolher um time de futebol para torcer. São inúmeros os fatores que contribuem para essa escolha: influência de parentes e amigos, cores e escudos, jogadores, as inúmeras quinquilharias que ganhou quando tinha apenas um

Leia mais »
Os piores hinos do rock de todos os tempos
Música
Cesar Mateus

Os piores hinos do rock de todos os tempos

Não é sempre – na verdade é quase nunca – mas os algoritmos de redes sociais, a cada eclipse lunar, acertam nos conteúdos sugeridos. Quando fui apresentado por Maikel de Abreu para o canal do carismático Rick Beato, outros canais do gênero “teoria musical da música pop” começaram a pipocar

Leia mais »
Quarterbacks novatos da temporada 2023 da NFL
NFL
Cesar Mateus

Quarterbacks novatos da temporada 2023 da NFL

Diferente de outros esportes coletivos em que – por mais que existam craques, estrelas e fominhas – não existe uma posição necessariamente mais importante que as outras (ainda mais quando elas podem ser intercambiáveis no meio da partida, um zagueiro pode partir para o ataque e fazer um gol, um

Leia mais »
PJ Harvey - I Inside the Old Year Dying
Música
Cesar Mateus

PJ Harvey – I Inside the Old Year Dying

Como já afirmei diversas vezes neste sítio da rede mundial de computadores, “Let England Shake’ foi (junto com o já citado “Have one on me” da Joanna Newsom) o disco que mais ouvi nos últimos anos. PJ Harvey ,junto com o Radiohead, (e as retrospectivas de aplicativos de streaming não

Leia mais »