A NBA sempre esteve à procura do seu jogador completo, uma espécie de Super-homem das quadras e que possuísse todas as diversas qualidades que fazem um bom jogador de basquete, mais altura desproporcional, tornando-se assim o atleta perfeito ou… um unicórnio.
Esse termo foi cunhado na metade da década passada, mas ainda antes houveram jogadores que chamaram a atenção por combinarem características que não eram comuns com seu tipo físico, como o caso de Magic Johnson que com 2,06m possuía a altura para jogar em posições dentro do garrafão, mas que a visão de jogo, qualidade de passe e velocidade transformaram em um dos melhores armadores da história (há quem – eu – considera o melhor).
LeBron James foi um caso parecido, pois possui também ótima visão de jogo e passe, a grande diferença é que James ainda era capaz de atacar defesas de uma forma que Magic nunca foi capaz. LeBron nunca foi considerado um unicórnio, pois essa terminação não existia, por isso o seu título foi The chosen one, o escolhido. Se refletirmos em como receber essa alcunha aos 16 anos pode ferrar o psicológico de qualquer um (em qualquer área), até que LeBron se comportou bem.
Mas como dito antes, os verdadeiros unicórnios surgiram na metade da década passada e, apesar de ser um nome que caiu no ostracismo à medida que outros jogadores melhores e mais impressionantes surgiam, Kristaps Porzingis pode ser considerado o primeiro unicórnio.
Com 2,21m, o jogador da Letônia teve um começo desesperançoso na NBA. Escolhido na 4 posição do draft de 2015, a imagem que ficou daquela noite foi de um menino, torcedor do New York Knicks, inconformado e chorando as pitangas, com mais uma escolha ruim do seu time.
Ele teve que engolir as lágrimas, pois Kristaps logo se tornou um ídolo da equipe, um acerto de uma equipe acostumada a errar. Além da altura, o jogador letão possuía um ótimo arremesso, o transformando em um arma letal.
Porém, apesar de ter se tornado um all-star, sua carreira em New York não deslanchou, muito por conta de lesões, e ele logo foi trocado, primeiro para o Dallas Mavericks, onde a esperança de que ele se tornasse o Robin para um Luka Doncic-Batman – porém simpático – nunca se concretizou. Não demorou muito para ele ser trocado para uma das Sibérias da NBA, o Washington Wizards.
Mas se Kristaps Porzingis ficou na promessa, outro grande jogador pode receber a alcunha de unicórnio. Giannis Antetokounmpo não causou nem metade da comoção da escolha de Porzingis, quando foi draftado na décima quinta posição pelo Milwaukee Bucks em 2013. Giannis era um projeto, era muito jovem e cru, com pouquíssima experiência profissional.
A história do menino pobre das ruas de Atenas que se transformou em um dos melhores jogadores da NBA (se não o melhor) é tão digna de filme que a Disney a transformou em um. Ao longo dos anos a aposta dos Bucks deu muito certo, tanto que a equipe voltou a vencer na NBA depois de 50 anos.
Giannis não possui o arremesso de longa distância de Porzingis e só isso. Todo o resto ele faz e faz melhor: ele carrega a bola, ataca a defesa adversária, é veloz e é um ótimo defensor, um exemplo de um jogador completo, mas que obviamente não é perfeito. Mas poderia existir um jogador perfeito?
Talvez sim. E essa pergunta vai ser respondida na próxima temporada
A Guerra dos Mundos francesa
Vai ser estranho quando um nome desses estiver na boca do povo basqueteiro (se bem que depois de Antetokounmpo, tudo parece fácil), porém as previsões de quase unanimidade dos olheiros é que Victor Wembanyama se torne o próximo grande jogador da NBA.
E quando falamos em grande, é grande mesmo: 2,19m aliados a um domínio da bola digna dos melhores armadores da liga, ótimo arremesso e defesa eficiente, fazem com que as dúvidas em relação ao seu desempenho na NBA sejam mais ligadas ao aspecto físico (ele não é muito forte ainda) e, principalmente, lesões (que são, infelizmente, bem frequentes em atletas com esse tipo físico).
O hype é tanto que muitos especialistas em draft afirmam que Victor é o melhor prospecto desde LeBron James, outros são ainda mais ousados e dizem que ele é ainda melhor. Não à toa diversos times estão fazendo de tudo para terem uma chance maior de escolher o jogador francês. Em um amistoso nos EUA ele chamou a atenção do próprio LeBron, que disse que ele não era um unicórnio, algo obviamente defasado, e que Wemby era um alien.
Victor gostou mais dessa definição, talvez ele não seja tão fã de equinos, mas sabemos que Wembanyama possui uma personalidade muito interessante. Ele é interessado em livros de ficção científica e arte, além de uma maturidade incomum para alguém de sua idade. No primeiro de abril também demonstrou senso de humor, quando em uma entrevista disse que estava cogitando esperar mais um ano antes de entrar na NBA e deixou muitos general managers da NBA sem sono.
Mas é claro que todo esse carisma, intelectualidade e óculos de armação da moda de nada servirão se ele não se tornar o jogador que todos desejam que ele se torne. Atualmente ele joga na liga francesa pelo Boulogne-Levallois Metropolitans 92, time de Paris com um ginásio de pouco mais de 4 mil pessoas. Jogar nesse time foi claramente uma escolha de carreira, afinal em um time menor ele teria mais tempo de jogo, ou seja, sua chance de brilhar seria maior.
E nesse último ano, tudo o que ele fez foi deixar queixos caídos, tanto pela liga francesa quanto por amistosos ao redor do mundo. Na última semana, por exemplo, ele criou um dos highlights, não só da sua temporada, mas de todo o ano no basquete. Após errar um arremesso de 3, ele corre em direção a tabela e enterra por cima de todo mundo, inclusive companheiros de equipe.
E aqui vale um adendo, Victor, ao contrário da maioria dos seus pares norte-americanos, joga contra atletas profissionais no auge da sua forma física e mesmo assim se destaca, algo muito parecido com que fez Luka Doncic, a diferença é que o jogador esloveno jogava em um time muito maior (o Real Madrid) e começou ainda mais novo – já era profissional aos 17 anos!
De qualquer forma, a expectativa em cima de Wembanyama só vem crescendo, de um mito criado no subconsciente de olheiros e dirigentes da NBA ele se tornou uma esperança para diversas franquias que patinam no lodo da insignificância esportiva. Irá Wemby se tornar o craque que todos esperam? Alien, unicórnio ou curupira, qual criatura mística que ele irá se tornar? Só o tempo dará essas respostas.
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