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We Believe Warriors: a grande zebra da história da NBA

Zebras fazem parte do esporte, na verdade é uma das partes mais legais, afinal quem não gosta de ver aquele atleta ou time que não tinha chance alguma vencer justamente o favorito. Isso acontece tanto em Copas do Mundo quanto em um campeonato de snooker no Bar do Abilidozo. Na NBA não seria diferente, torcer para o azarão é uma prática ensinada pelo Vô Miro (grande apreciador de esportes televisivos) por muitos anos.

Porém, apesar de toda nossa torcida, essas vitórias não são muito comuns. Com a exceção de casos em que o principal jogador se machuca ou o mascote é sequestrado, a maioria das séries da NBA, pelo menos nas suas rodadas iniciais, não apresentam grandes surpresas, por mais disputadas que elas possam parecer.

No que é classificado como a era moderna da NBA (após a integração dos times da falecida liga ABA e da implementação da linha de três pontos, ou seja, 1980 em diante) existem alguns casos clássicos de zebras na primeira rodada. Os mais famosos até então foram as vitórias do Denver Nuggets em cima do Seattle Supersonics em 1994 e do New York Knicks contra o Miami Heat em 1999.

No primeiro exemplo o time de Seattle era amplo favorito, mas a lesão de seu principal jogador da época, o armador Gary Payton, mudou a cara do confronto. Mesmo assim foram jogos épicos, com Seattle abrindo 2 a 0 na série, mas perdendo o jogo decisivo em casa (na época as primeiras rodadas dos playoffs eram disputadas em melhor de 5). A cena do pivô de Denver, Dikembe Mutombo, deitado no chão da quadra, às lágrimas, após o final do jogo é uma das imagens mais emblemáticas da NBA.

We Believe Warriors
Mutombo não acredita que venceu – Knicks e Heat fazendo o que faziam de melhor: brigar!

Já o segundo exemplo não foi tão impactante, porém mais importante em termos históricos. A temporada de 1998/1999 (seguinte à segunda aposentadoria de Michael Jordan) viveu um drama envolvendo a negociação dos contratos trabalhistas dos jogadores com os donos do clube (o famigerado CBA) que empacou, e que resultou em uma temporada mais curta do que o normal.

Com menos jogos, alguns times tiveram menos tempo para entrosar o time o quanto gostariam. Era o caso do New York Knicks que contava com uma série de novos jogadores. Classificando na oitava e última posição do Leste para os playoffs, o time de Nova York derrotou o número 1 Miami Heat em uma série clássica e de grande rivalidade entre as equipes (esses times realmente se estavam) novamente em cinco jogos.

Porém em 2007 a primeira rodada dos playoffs já era disputada em sete jogos e o número um do Oeste era muito, mas muito favorito e contava com o MVP da temporada.

Desacreditados Mavericks

É possível afirmar que o Dallas Mavericks da temporada 2006/2007 vivia a sua melhor fase da história. A equipe havia saído derrotada de uma final muito disputada com o Miami Heat no ano anterior e vinha ainda mais favorita para o próximo campeonato, terminando com menos de 70 vitórias só porque poupou jogadores nas partidas finais (lembrando que na época o recorde de vitórias em uma temporada era de 72).

Isso porque a grande estrela do time, o alemão Dirk Nowitzki vinha mais inspirado do que nunca. Grandalhão, muito belo e com um gosto no mínimo interessante para cortes de cabelo, Dirk era conhecido especialmente pelo seu arremesso, um dos melhores que já pisou na NBA (o melhor se contarmos jogadores de sua estatura, acima de 2,13m).

We Believe Warriors
A História é filha do seu tempo, já diziam os cortes de cabelo de Dirk (lindíssimo Ale)

E como ele era disparado o melhor jogador da melhor equipe da temporada, nada mais natural do que vencer o prêmio de melhor jogador. Foi o primeiro MVP de um atleta europeu, um verdadeiro marco na globalização da liga que crescia de popularidade a cada ano e cada vez mais era impactada por nomes de diversos continentes.

Uma história belíssima, com tudo para ter um final feliz, não fosse um pessoal muito esperançoso (e com péssimos uniformes).

Guerreiros mal vestidos

Quem vê o Golden State Warriors hoje em dia, com seu jogo rápido e revolucionário, com Stephen Curry arremessando de todos os cantos da quadra e com belos uniformes, não consegue compreender o quanto os times antes da sua chegada eram sofríveis.

Os Warriors dos anos 90 e da primeira década do novo milênio eram o que os entendidos costumavam chamar de um saco de pancada. Apesar do ligeiro sucesso da equipe no começo dos anos 90, com o Run TMC, desde que aquele núcleo foi separado nada mais de bom aconteceu.

Até os playoffs de 2007 o time havia ficado 12 anos seguidos sem participar da pós temporada, após o feito ficou mais 5, ou seja, era uma época de vacas magrelissimas: contratações ruins, trocas equivocadas, sequentes mudança na comissão técnica e pior, um dos uniformes mais feios da história da NBA.

We Believe Warriors
A decadência do Ocidente em 3 uniformes

Para sermos justos a mudança aconteceu na temporada 97/98, o que demonstra que a decadência vinha antes dos uniformes ruins, mas eles certamente não ajudaram. Saiu o belo azul e o amarelo, os motivos de Califórnia e Bay Area e entrou um azul escuro sem graça, laranja e um logo que parece ter sido criado para um time genérico de expansão no NBA 2K.

Amaldiçoados com esse horror no corpo, o time não conseguia ganhar, nas 12 temporadas anteriores não conseguiu chegar às 40 vitórias (em um campeonato com um total de 82 jogos). Não alcançar nem 50% de aproveitamento em um Oeste extremamente disputado era receita para fracasso e decepção. Até um velho amigo reaparecer.

Run alguma coisa

Quando o antigo membro do Run TMC e agora executivo do Warriors, Chris Mullin, viu a oportunidade de contratar seu antigo técnico, Don Nelson, ele não pensou duas vezes. O grande problema é que aquilo que funcionou 15 anos antes não necessariamente iria funcionar agora, ainda mais com jogadores diferentes. 

Os Warriors do We Believe eram um amontoado de ex-estrelas descartadas, jogadores que nunca atingiram seu potencial e algumas jovens promessas. O principal nome do time era Baron Davis, prolífico armador com passagem pelo Charlotte/New Orleans Hornets, mas que havia perdido espaço no time para uma jovem super estrela em ascensão, Chris Paul (se traduz Cris Paulo).

Além de Davis, outro jovem armador pedia passagem e logo tomaria conta do time, Monta Ellis era um fenômeno em seu tempo e logo se afirmaria como um dos melhores da posição (para também ser descartado por outra jovem promessa, um tal de Curry).

We Believe Warriors
O gente boa Davis (ex da Laura Dern) e os bad boys Barnes e Jackson (e um outro tio atrás)

Para completar, alguns bons jogadores que faziam de tudo um pouco como Jason Richardson e Matt Barnes. Uma troca no meio da temporada trouxe outro bad boy, Stephen Jackson, que com Barnes há anos possui um podcast de sucesso, muito antes de ser modinha (all the smoke, o nome entrega muita coisa).

Com jogadores rápidos e de bom arremesso, os Warriors fizeram aquilo que parecia impossível, eles acreditaram.

We Believe

Quase vinte mil pessoas nas arquibancadas trajando camisetas de um amarelo reluzente com os dizeres We Believe (nós acreditamos) empurravam o time no jogo seis da primeira rodada dos playoffs. O que antes parecia impossível, estava prestes a acontecer.

Quando Dallas perdeu o primeiro jogo em casa, ninguém estranhou, afinal isso não é tão incomum, times campeões perdem primeiros jogos a torto e a direito (LeBron James chegou a ganhar fama por isso). 

Mas quando Golden State voltou para seu ginásio com uma vantagem de 3 a 2 na série, o mundo do basquete já estava estupefato. Não só os jogadores do Warriors estavam acertando tudo, mas Dirk Nowitzki, MVP da liga, estava levando um baile dos baixinhos.

alegria e êxtase em amarelo
alegria e êxtase em amarelo cheguei

Sua atuação nesse jogo seis é considerada um dos piores feitos de uma super estrela em um momento decisivo e que lhe rendeu uma fama de pipoqueiro que o perseguiu por anos. Foram 2 arremessos certos em 13  tentativas, nas bolas de três pontos, 0 acertos em 6 tentativas. O jogo não foi disputado, foi uma avalanche. Os Warriors não só voltavam aos playoffs, mas derrotaram o Golias alemão. A História estava sendo reescrita.

Um final feliz

Dirk Nowitzki aceitou seu prêmio de melhor jogador da temporada depois de ser eliminado em um dos momentos mais embaraçosos da história da NBA. Sua fama de nadar, nadar e morrer na praia foi fato consumado por anos. Mas seu final foi feliz, em 2011 ele venceu, como azarão, o supertime do Miami Heat de LeBron, Wade e Bosh e finalmente teve seu valor reconhecido.

Já os Warrior do We Believe iriam perder a próxima rodada para o bom time do Utah Jazz, muito por causa da lesão de Baron Davis. Mas seus torcedores seriam recompensados por uma das maiores dinastias da NBA na década seguinte.

Para saber mais sobre a história do basquete e como uniformes feios podem ser um dos fatores para carma ruim, acesse o restante do blog.

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